A Prefeitura de Natal foi ocupada por dezenas de mulheres na manhã desta segunda-feira (25), durante um ato organizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário e pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). A mobilização fez referência ao Dia Internacional de Combate à Violência contra as Mulheres e levou às portas do Executivo municipal uma série de reivindicações por políticas públicas voltadas à segurança, saúde e educação de mulheres da capital potiguar.
O objetivo da ocupação foi apresentar uma carta de demandas que inclui a criação de abrigos e casas de referência, ampliação de delegacias especializadas, melhoria da iluminação pública e maior oferta de creches. As organizações também denunciaram o avanço da violência de gênero e a violência de Estado que atinge especialmente mulheres das periferias de Natal.
A chegada das manifestantes ao local foi marcada por tensão. As mulheres relatam que foram recebidas com truculência por agentes da Guarda Municipal e que houve uso de spray de pimenta para impedir a entrada no prédio.
Kivia Moreira, coordenadora do movimento, reforça que o ato do dia 25 de novembro foi pensado de forma simbólica, aproveitando o Dia Internacional de Combate à Violência contra as Mulheres para denunciar a precariedade das políticas públicas existentes. Ela lembra que a manifestação ocorreu também em outros estados e municípios do país com o mesmo objetivo, expor a insuficiência de equipamentos e serviços voltados ao enfrentamento da violência de gênero. Segundo a coordenadora, “no Brasil há apenas 56 delegacias 24 horas e 512 delegacias no total”, enquanto em Natal a estrutura se resume a “uma delegacia 24 horas, que é na Zona Norte, uma casa-abrigo que é a Clara Camarão e o Centro de Referência Elizabeth Nárcea”, relata à Agência Saiba Mais.
Para o movimento, esses equipamentos não dão conta da demanda, especialmente diante da “casa-abrigo superlotada” e do número reduzido de creches que atendem mulheres em situação de violência. Ela cita como exemplo o CME do Vila de Ponta Negra, “estagnado há mais de cinco ou seis anos”, situação que afeta diretamente as mães das periferias.
A coordenadora explica que a ocupação só foi realizada após várias tentativas frustradas de negociação com a Prefeitura. O grupo decidiu se reunir em frente ao prédio após organizar mulheres de todas as zonas da cidade para uma denúncia conjunta. Ela destaca que o ato era composto “quase 100% por mulheres e crianças”, enquanto a Guarda Municipal que atuou na repressão era formada quase integralmente por homens, penas duas policiais mulheres estavam presentes. Kivia relata que houve agressões, tentativas de fechamento das portas e uso de spray de pimenta, o que provocou desmaios e ferimentos entre as participantes.
A manifestação, segundo ela, foi pacífica desde o início, mas a resposta policial configurou “uma violência brutal, desnecessária”. Após o conflito, o grupo foi recebido pelo gabinete da Prefeitura, onde denunciou o episódio como violência de Estado e questionou a gestão sobre quais políticas de enfrentamento à violência contra a mulher são praticadas se, segundo ela, a própria Guarda Municipal reproduziu agressões de gênero durante o ato. A pauta entregue inclui tanto reivindicações estruturais quanto a demanda por responsabilização das equipes que atuaram na repressão.
Segundo informações da Guarda Municipal, o grupo entrou na Prefeitura para que suas pautas fossem ouvidas pela gestão, o que segundo o órgão, foi feito.
Após a ocupação, quatro representantes das organizações foram recebidas pela Secretaria Municipal da Mulher para apresentação oficial da carta de reivindicações. O grupo aguarda retorno da gestão e afirma que seguirá mobilizado até que as demandas avancem.
O que é o Movimento de Mulheres Olga Benário
O Movimento de Mulheres Olga Benário é uma organização feminista popular que atua em todo o país na defesa dos direitos das mulheres trabalhadoras, das periféricas e das que enfrentam diferentes formas de violência e opressão. O movimento se define como uma articulação construída “a partir das lutas do povo”, comprometida com a organização de mulheres para transformações estruturais na sociedade
Inspirado na trajetória de Olga Benário Prestes, militante comunista que simboliza resistência e enfrentamento ao fascismo, o movimento reivindica um feminismo de base, anticapitalista e voltado para a construção de políticas públicas que garantam dignidade e proteção às mulheres.
A atuação do movimento inclui formação política, acolhimento, campanhas contra a violência de gênero, mobilização comunitária e participação ativa em atos e ocupações.
Com presença consolidada em diversos estados brasileiros, o Movimento de Mulheres Olga Benário se afirma como uma das principais referências de feminismo popular no país, defendendo que “a luta das mulheres é parte essencial da luta por uma sociedade livre de exploração e opressão”.
SAIBA+
Marcha das Mulheres Negras: Saúde, Poder Político e a Reafirmação da Ancestralidade
Fonte: saibamais.jor.br



