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UFRN entrega título de Doutor Honoris Causa post-mortem a José Xavier Cortez

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) homenageou, na tarde da sexta-feira, 28 de novembro, o editor e livreiro potiguar José Xavier Cortez com o título de Doutor Honoris Causa, concedido post-mortem. A cerimônia ocorreu no auditório do Centro de Educação e reuniu membros da comunidade acadêmica, familiares e amigos do homenageado.

A outorga reconhece a trajetória de Cortez como editor comprometido com a democratização do acesso ao conhecimento, especialmente nas áreas das Ciências Humanas e Sociais. Durante a solenidade, o reitor da UFRN, José Daniel Diniz Melo, destacou a relevância da atuação de Cortez para o país. “Seu trabalho editorial abriu portas para que professores, pesquisadores, pedagogos e pensadores brasileiros pudessem publicar obras que mudaram paradigmas e inspiraram gerações”, afirmou.

A filha do homenageado, Mara Regina Beserra Xavier Cortez, representou a família na cerimônia e fez um discurso emocionado sobre o legado do pai. Segundo ela, a homenagem representa não apenas o reconhecimento institucional da UFRN, mas também um tributo à vida dedicada à transformação social por meio dos livros.

A leitura do currículo de José Xavier Cortez foi realizada por Maria das Graças Soares Rodrigues, diretora da Editora da UFRN, enquanto a saudação oficial foi feita por Cynara Teixeira Ribeiro, diretora do Centro de Educação. A comissão de honra da solenidade foi formada pelo professor emérito José Willington Germano, pela professora Marta Maria de Araújo, do Centro de Educação, e pelo professor Marcelo Braz Morais Reis, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas.

Quem foi José Xavier Cortez

Nascido no município de Currais Novos, no interior do Rio Grande do Norte, José Xavier Cortez construiu uma das trajetórias mais emblemáticas da história editorial brasileira. Filho do sertão potiguar, ainda menino enfrentava longas caminhadas de nove quilômetros entre o Sítio Santa Rita, onde morava com a família, e a escola rural mais próxima. Seu sonho de infância era simples: queria ser caminhoneiro ou sanfoneiro.

Na adolescência, mudou-se para Natal com o objetivo de continuar os estudos. Pouco depois, já em Recife, ingressou na Marinha. No início da década de 1960, somou-se ao movimento de marinheiros que, insatisfeitos com os baixos soldos e as condições de trabalho, fundaram a Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil. Cortez foi um dos primeiros a aderir à entidade.

Em março de 1964, às vésperas do golpe militar que instauraria a ditadura no Brasil, Cortez foi preso durante uma assembleia da associação realizada na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro. A prisão levou à sua expulsão da Marinha em dezembro daquele mesmo ano.

Após o episódio, mudou-se para São Paulo e recomeçou. Matriculou-se em um curso preparatório para o vestibular e foi aprovado em Economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Foi na universidade, um dos centros de resistência ao regime militar, que começou sua ligação definitiva com o mundo dos livros: vendia obras para colegas de curso e, pouco tempo depois, decidiu abrir sua própria editora.

Fundada a partir da colaboração com professores da própria PUC, a Cortez Editora tornou-se referência nacional nas áreas de educação, serviço social e ciências humanas. Seu catálogo reuniu nomes fundamentais do pensamento brasileiro, como Paulo Freire, Florestan Fernandes e Maurício Tragtenberg. A partir de 2004, diversificou a atuação da empresa e passou também a publicar livros de literatura infantil e juvenil.

Reconhecido pelo papel que desempenhou na formação de leitores e no incentivo à produção intelectual crítica, Cortez recebeu diversas homenagens em vida. Em 2009, foi declarado cidadão paulistano e teve sua trajetória retratada no documentário O semeador de livros, dirigido por Wagner Bezerra. Em 2016, foi agraciado também com o título de cidadão natalense. Mas, entre as honrarias que mais prezava, estava a de dar nome a uma escola estadual na zona sul de São Paulo. Fazia questão de visitar o local todos os anos e conversar com as crianças.

Sua atuação no mercado editorial também se refletiu na vida institucional do setor. Foi diretor da Câmara Brasileira do Livro (CBL) entre 1999 e 2003 e membro atuante da Associação Nacional de Livrarias (ANL). Em nota, a CBL destacou: “Seu comprometimento e legado levaram ideias potentes às prateleiras de livrarias do Brasil inteiro. Ideias essas fundamentais para a formação de nossa nação, e luta pelas desigualdades sociais em nosso país”. Já Bernardo Gurbanov, presidente da ANL, descreveu Cortez como “um pioneiro, um mestre, um herói. Um exemplo de superação, fez da educação sua bandeira e dos livros sua paixão”.

Em março de 2020, participou do programa PublishNews Entrevista, que reúne depoimentos históricos sobre a indústria editorial brasileira. No final daquele mesmo ano, lançou o livro Tempos de isolamento, no qual revisitou sua trajetória pessoal e profissional.

José Xavier Cortez faleceu em 2021, deixando como legado uma vida dedicada à democratização do acesso ao conhecimento, à valorização da leitura e à transformação social por meio dos livros.

Fonte: saibamais.jor.br

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