A Câmara Municipal de Natal, pelo que tem transmitido, a partir das suas ações nos últimos meses para os natalenses, parece bastante perdida e desconectada com aquele que realmente deve ser o seu papel constitucional, de um poder legislador e de fiscalização das atividades do executivo.
O palácio Padre Miguelinho tem nos brindado com pérolas dignas das melhores comédias tragicômicas, graças aos absurdos cometidos por vereadores que simplesmente têm deixado de lado o seu real papel e entrado de cabeça e corpo no extremismo ideológico que vem dominando o país – e em Natal não tem sido diferente – transformando o que deveria ser debates sobre a cidade, seus problemas e a projeção de um futuro melhor para os cidadãos, e concentrando foco na miudeza de uma política rasteira, descompromissada e cheia de estratagemas, onde o peso ideológico é maior que a discussão político administrativa.
A maior parte da produção dos nossos vereadores se aproxima de um verdadeiro festival de absurdos, ou como se diz no popular, lambança para todos os lados e gostos. Desde a aprovação de uma lei que depois de sancionada pelo prefeito, precisou ser anulada porque essa lei continha inconstitucionalidades e não foi observada pelo vereador nem por sua equipe, até o degradante episódio da tentativa de cassação de uma vereadora que acabou nas hostes da justiça.
Um episódio que revelou a falta de cuidado e de preparo da câmara, já que durante todo o processo de cassação foram adotados ritos regimentais, mas no momento do agendamento da sessão que julgaria o parecer do relator, eles mudaram o rito, descumprindo algo que vinha sendo seguido e para justificar, encontraram amparo numa lei que determinava outros prazos.
Resultado: o processo acabou na mesa de um desembargador que, por duas vezes, anulou a data marcada ao arrepio da lei e ainda passou reprimenda à Casa legislativa. Tudo isso porque não se observou o prazo final para o encerramento do processo de cassação e, diante da exiguidade de tempo, tentaram uma manobra que acabou expondo ainda mais a Câmara ao vexame.
O festival de lambanças não para por ai. As agressões entre vereadores no plenário se tornaram rotineiras. Desrespeito às vereadoras, xingamentos, debates vazios de ideias e fracos em argumentos, além de uma polarização burra, provocada pelo extremismo que tomou conta da política e provocando inversão de valores, princípios e conceitos democráticos, deixando a nossa câmara ainda menor e assim ampliando o descrédito dos natalenses.
Tudo isso reforça o despreparo e a falta de comprometimento com a gestão da casa, a ética e o respeito com a cidade a que eles, os vereadores, deveriam prestar contas. Aos olhos dos observadores mais atentos aos meandros da política, a imagem que transparece é também de uma total subserviência, já que a maioria que ali está, mais parece preocupada em agradar ao prefeito do que, efetivamente legislar em prol da sociedade. Até acusação de que o presidente da casa aparece muito pouco por lá, foi exposto de forma contundente.
É meus caros leitores, a situação é realmente vexatória. E enquanto as lambanças ganham destaque na mídia, situações importantes da cidade vão sendo deixadas de lado, quando não jogadas para debaixo de um tapete imaginário que o cidadão comum acaba não percebendo, por não ter acesso a informações e quando as tem, essas vêm encobertas por um manto de proteção de uma mídia que também, há muito abandonou um dos seus papeis fundamentais que é o de fiscalizar e denunciar os absurdos e passou a publicar o que é gestado em gabinetes com orientação clara de dar apenas a versão da elite que detém o poder na cidade.
A política está doente e a maior prova dessa enfermidade é o que nós, eleitores, temos produzido com nosso voto: uma baixíssima qualidade dos nossos representantes legislativos. Infelizmente esse fenômeno, se é assim que podemos classificar tamanha distorção, acontece de forma geral. Tratei nesse artigo das lambanças da Câmara Municipal, mas os absurdos também estão tomando casa das casas altas da representação legislativa do Brasil. Mas tratar do congresso nacional, é tema para um outro artigo mais à frente.
Fica o alerta que nunca deixou de ser presente: Precisamos, nós, o povo brasileiro, evoluir. Deixar de acreditar que um salvador da pátria em todas as searas políticas chegará para resolver os problemas estruturais e crônicos, passar a pensar e agir com mais crítica, não cair no debate raso e muito menos, se deixar influenciar pelo radicalismo.
Deste canto, fica a torcida para quem em 2026, a câmara municipal e os vereadores de Natal, se preocupem mais com a cidade, produzam com comprometimento resultados para a cidade, eliminem as lambanças e deixem de lado a preocupação com suas próprias estruturas. Não será fácil diante de mais um ano em que a campanha eleitoral e seus discursos fantásticos dominarão a cena. A verificar.
Fonte: saibamais.jor.br



