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São Gonçalo do Amarante
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O rio porão

O porão abriu sábado, abriu-se pra mim, com cheiro de caju, coco, cerveja e pés na terra. Com cheiro de feira e diversidade. Cheirava a respeito, a aconchego, a Aurora, a Marrom, e a gente.

O porão se abriu pra uma conversa, pra uma festa, pra vários encontros, pra banho doce depois de um banho de mar.

O porão cheirava a aniversário, a doce de caju, a presente, a rock’n’roll e a corpos entregues à dança e aos vícios.

Quando o porão fechou, meus caminhos me levaram em correnteza num contrafluxo, saindo do mar, em busca do rio.

O rio, doce, que se escondia em outro porão. Depois do cajueiro, das mangabeiras, da casa de portas de vidro, das orquídeas, da mangueira que cuspia seu frutos. Lá no fundo.

Looooooooooooooonge!

O rio-porão lá no fundo, no mais escuro, embaixo do bambuzal passava sua língua em mim docemente, arrancando aquilo que o mar-sótão não fora capaz.

Arrancou dores, choros, preocupações, e um futuro incerto e cheio de indecisões: o inesperado. O rio e suas águas, sendo presente,  me faziam presente.

Eu era o rio. O rio era eu. E conversávamos conversa de água e vento junto aos bambuzais. Nós nos atravessávamos no instante em que éramos.

Os bambuzais cantavam com os pássaros e me acalentavam como um colo fresco e aconchegante. Estava protegida do mundo, dos meus medos, das minhas inquietudes, de mim.

Naquele rio-porão eu enxergava luz e saídas, e estradas nunca pensadas. Naquele rio-porão as orquídeas trepadas nos troncos me diziam que ser estranha tem suas belezas.

Em silêncio, confessei-me com o bambuzal, com o rio, com as árvores frutíferas, com os pássaros, com a temperança que me fazia existir plena, feito uma gia verde, senhora absoluta daquelas águas.

Fonte: saibamais.jor.br

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