Em novembro, um morador da zona rural de Parelhas, município que integra o Seridó Geoparque Mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), encontrou fósseis de uma Preguiça-Gigante. A descoberta, que foi atestada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é considerada de alto valor para a paleontologia.
O achado é apenas um exemplo das maravilhas encontradas e pesquisadas no Seridó Geoparque Mundial da Unesco, área que abrange seis municípios do Rio Grande do Norte: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais Novos, Lagoa Nova e Parelhas.
A área territorial desses municípios soma 2.800 KM2 , onde há 21 locais de interesse geológico internacional, principalmente onde há mineralizações de Tungstênio, principalmente quando há associação a um mineral chamado Scheelita.

Ao todo, há 229 Geoparques em todo o mundo distribuídos entre 50 países. No Brasil são 6: 1 no Ceará (Geoparque Araripe – mais antigo, existe desde 2006 e chancelado pela Unesco em 2015), 1 no Rio Grande do Norte (Geoparque Seridó), 3 no Rio Grande do Sul (Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, Quarta Colônia e Caçapava) e 1 em Minas Gerais (Geoparque Uberaba).
Geoparques Mundiais da Unesco, são áreas geográficas únicas e unificadas porque apresentam locais que apresentam patrimônio geológico de relevância internacional. Esses locais são geridos, através de uma concepção holística, de promoção da conservação, educação e desenvolvimento sustentável.
“Esses territórios que recebem a chancela Geoparque Mundial da Unesco, fazem parte de um programa internacional de Geociências e Geoparques. Com isso, se tem ao redor do mundo locais onde esse patrimônio geológico de relevância internacional é identificado. Esses locais são únicos no mundo. Na América do Sul, esse tipo de mineralização se dá no Brasil, especialmente, no Rio Grande do Norte e, especificamente, nessa região do Seridó”, explica Marcos Nascimento, Coordenador Científico do Seridó Geoparque Mundial da Unesco e professor do Departamento de Geologia da UFRN.


“Isso foi algo que percebemos e começamos a trabalhar em 2010. Percebi essa característica geológica de relevância e começamos a sistematizar as informações e projetos que tínhamos na universidade associando às questões da comunidade, buscando dialogar com a sociedade desses seis municípios para a promoção do desenvolvimento territorial sustentável até em 2022, 12 anos depois, pleitearmos junto à Unesco a chancela para nos tornarmos, de fato, um geoparque mundial”, detalha Nascimento.
O título de geoparque não traz recursos diretamente por parte da Unesco, mas traz visibilidade e a possibilidade de dialogar com atores de vários cantos do mundo:
“Isso favorece com que entidades públicas e privadas passem a olhar melhor para esse território e sim, por que não, criar parcerias investindo recursos nessa promoção do desenvolvimento territorial sustentável”, projeta Nascimento.
Com uma gestão integrada e apoiada por um Comitê Científico, o Geoparque é, também, uma nova forma de gestão dos municípios que integram a área.
“O território passou a ser gerido por uma entidade. Hoje, quem gere o Geoparque Seridó é o Consórcio Público Intermunicipal Georparque Seridó. Ele foi criado pelos seis municípios que têm como presidente o prefeito Lucas Galvão, de Currais Novos. Já o professor Marcos Nascimento é o coordenador do Comitê Científico do Geoparque, formado por 19 pesquisadores de várias instituições, como a UFRN, UERN [Universidade do Estado do Rio Grande do Norte], o Serviço Geológico do Brasil, Universidade Regional do Cariri, IFRN [Instituto Federal do Rio Grande do Norte], dentre outros”, revela Nascimento.
Com a criação desse tipo de espaço busca-se três pilares básicos: conservação, educação e turismo.

“O Consórcio foi instituído para garantir a conservação do patrimônio geológico e promover o desenvolvimento sustentável da região. A administração do Geoparque Seridó busca equilibrar a conservação do patrimônio natural com as necessidades da comunidade local, promovendo um desenvolvimento sustentável e consciente”, defende Lucas Galvão, prefeito de Currais Novos. O Conselho Gestor do Geoparque também é formado por: Vice-presidente (Prefeito de Carnaúba dos Dantas – Kleyton Dantas); Secretário de administração (Prefeito de Cerro Corá- Maciel Freire); Conselheiro Fiscal (Prefeito de Acari – Fernando Bezerra); Conselheiro Fiscal (Prefeito de Lagoa Nova – Iranildo Aciole); Conselheiro Fiscal (Prefeito de Parelhas – Thiago Almeida); Diretora Executiva (Janaina Medeiros); Geocientista (Silas Samuel).
Apesar do nome, o Geoparque não é sinônimo de um parque comum. Há locais de interesse geológico de uso científico, educativo e turístico.
“Passamos a pesquisar o uso desses locais de interesse geológico, seja para pesquisa científica, com universidade e professores e alunos, mas também do ponto de vista educativo, favorecendo com que professores e alunos das redes pública e privada de ensino fundamental e médio usem esses locais como sala de aula ao ar livre. Mas, muitos desses locais também têm perfil para uso turístico, o que de fato favorece a promoção da interiorização do turismo. Não à toa o Governo do Estado tem o Geoparque Seridó como local chave para promoção turística do Rio Grande do Norte e, de fato, isso hoje, está dentro da perspectiva de destino de marca turística para o RN”, acredita Nascimento.

A mudança na forma de gestão e de olhar sobre os municípios que integram a área do Geoparque tem trazido resultados palpáveis para moradores e visitantes.
“O Geoparque Seridó tem desempenhado um papel crucial no impulso do turismo na região através de diversas iniciativas e estratégias, como por exemplo: Criação de trilhas e passeios que destacam formações geológicas, cavernas e paisagens naturais, atraindo turistas interessados em ecoturismo; Investimentos em estradas e sinalização, facilitando o acesso a pontos turísticos e melhorando a experiência do visitante; Ações de marketing que promovem o Geoparque em feiras de turismo e nas redes sociais, aumentando sua visibilidade; Presença em eventos turísticos locais, regionais, nacionais e internacionais para divulgar as atrações da região; Programas de educação ambiental e geológica que atraem escolas e grupos, aumentando o fluxo de visitantes; Realização de eventos que promovem a cultura local e a geodiversidade; Incentivo à participação da população local nas atividades turísticas, como guias de turismo e venda de artesanato, promovendo a economia local; Valorização das tradições e festividades locais, que atraem visitantes; Fomento a práticas de turismo que respeitem o meio ambiente, atraindo visitantes preocupados com a sustentabilidade. O Geoparque Seridó tem sido fundamental para impulsionar o turismo na região, promovendo um desenvolvimento sustentável que beneficia tanto os visitantes quanto a comunidade local”, ressalta Lucas Galvão.


Descobertas
Atualmente há inúmeros trabalhos de pesquisa científica sendo realizados no Geoparque que vão desde questões ligadas a recursos hídricos a inventários turísticos dos municípios, fauna, flora e qualidade da água na nascente do Rio Potengi. Em 2025, por exemplo, há 13 projetos de extensão cadastrados, trabalhos que devem ficar prontos entre o final de 2025 e o início de 2026.
“São trabalhos que vão auxiliar a população local para que ela se utilize dessas pesquisas, se valorize e se empodere daquilo que eles têm, melhorando o aspecto econômico, social e ambiental da região”, reforça Marcos Nascimento, Coordenador Científico do Seridó Geoparque Mundial da Unesco e professor do Departamento de Geologia da UFRN.
Para o prefeito de Currais Novos e presidente do Conselho de Administração, o Geoparque é importante por questões que vão além da conservação ambiental, englobando aspectos sociais, culturais e econômicos.

“Promove práticas de turismo sustentável que respeitam o meio ambiente, beneficiando a economia local sem comprometer os recursos naturais. Fortalece a identidade cultural das comunidades locais, incentivando a valorização de tradições, artesanato e festas regionais. Oferece oportunidades de educação ambiental, aumentando a conscientização sobre a importância da geodiversidade e da conservação. Gera empregos e renda através do turismo, incentivando o comércio local e a produção de artesanato e produtos regionais. Promove a participação da comunidade nas decisões relacionadas ao geoparque, fortalecendo o senso de pertencimento e responsabilidade. Facilita o acesso a projetos e financiamentos que visam o desenvolvimento sustentável, além de parcerias com universidades e ONGs. O Geoparque Seridó é um espaço vital que promove a conservação, o desenvolvimento econômico e a valorização cultural, beneficiando tanto a comunidade local quanto os visitantes”, acredita.
Como visitar
Para quem se interessou por visitar o local, uma das recomendações é entrar em contato com o Geoparque através das redes sociais da entidade. Por lá, fica mais fácil montar roteiros e passeios com o auxílio de guias. No site, é possível encontrar a lista de condutores e guias de turismo credenciados.
Saiba +
Fonte: saibamais.jor.br



