Natal que tem no turismo uma mola propulsora do seu desenvolvimento, já viu de tudo um pouco quando tratamos dessa atividade fantástica e tão importante para a cidade e boa parte da população, que tira o seu sustento do prazer que a cidade proporciona a tanta gente do Brasil e do mundo.
A cidade que já teve seus dias de glória com uma invasão de turistas estrangeiros, europeus em sua maioria, e com o euro dominando as conversas desde o flanelinha da praia até os altos executivos do setor, acompanhou também uma queda acentuada na preferência dos visitantes, que passaram a enxergar em capitais vizinhas, por exemplo, uma melhor opção e mais barata para desfrutar do sol e do mar que a costa nordestina oferece quase o ano inteiro.
Aos poucos, Natal vem recuperando o prestígio de outrora e a preferência dos turistas; e com eles, a melhora nos índices e a perspectiva de reaquecimento da economia. Apesar das boas notícias, a cidade tem sido descuidada de uma maneira geral, e em específico com os seus cartões postais, principalmente o nosso litoral urbano.
A praia do meio há muito tempo sofre intervenções do poder público, mas continua a mesma, aspecto de abandono com alguns dos comércios existentes ali fechados, a exemplo de um centro de artesanato que sucumbiu e deixou mais um rastro de vazio, com a feia imagem de um prédio abandonado, certamente a espera de dias melhores.
A praia de Redinha continua com o seu tradicional mercado fechado já há algum tempo, após obras de reconstrução e uma infindável indefinição sobre a gestão do lugar, o que deixou na improvisação os comerciantes que ocupavam os boxes e tirando do natalense e dos turistas o prazer de apreciar a famosa ginga com tapioca, um dos maiores atrativos da gastronomia turística natalense.
Ponta Negra, o principal cartão postal e desejo de milhares de pessoas daqui e alhures, mesmo após as obras da engorda da faixa de areia, numa ação cheia de controvérsias, espetacularização digna de cena de novela com o prefeito à época comandando uma turba ensandecida, derrubando portões numa invasão ao órgão de controle ambiental do estado, forçando a todo custo e criando fato para ser explorado pela mídia, a liberação de licença para que a draga grega tirasse areia do fundo do mar para preencher a tal engorda.
Uma sucessão de ações que ao final provaram mais a necessidade de se fazer a obra a qualquer custo com areia inapropriada, e rodolitos aparecendo o tempo todo e afugentando da praia, moradores, vendedores, provando mais uma vez, que não existe planejamento, além de revelar a incapacidade do poder público de começar e finalizar uma obra decentemente.
Além dos alagamentos que a praia sofre a cada chuva, a tal urbanização que faria parte do projeto global, não saiu do papel; e a realidade que Ponta Negra enfrenta hoje é bem triste e de lamentar. O calçadão em degradação, com certos trechos afundando. Os banheiros abandonados e sem qualquer cuidado e os que ainda restam para uso, num estado bastante crítico e sem qualquer controle por parte da prefeitura.
A avenida a beira mar mais parece uma rua de comércio de periferia sem urbanismo. A calçada tomada por camelôs e nos restaurantes que ainda resistem, vendedores com cardápios na mão atacando as pessoas que passam por ali na tentativa desesperada de conseguirem clientes para seus estabelecimentos. As cenas dantescas compõem o cenário da nossa mais bela praia. Para o poder público, parece ou faz de conta que não existe problemas. Os comerciantes e empresários acomodados e sempre esperando que a solução mágica venha dos gabinetes refrigerados dos homens públicos.
Natal ainda é um destino turístico almejado por brasileiros de todas as regiões, mas a falta de políticas públicas claras e bem definidas, principalmente na sua infraestrutura e nos cuidados com a preservação do seu patrimônio urbanístico, a valorização das suas manifestações culturais e mais apoio efetivo aos empreendedores do setor, promovem de certa forma, uma insegurança jurídica e fazem com que muitos dos empresários busquem outros destinos para empreender. Nesse aspecto, João Pessoa, Recife e Maceió estão recebendo investimentos de empresários potiguares que com hotéis e outros empreendimentos, fortalecem seus negócios e enxergam parcerias fortes entre os setores privado e público.
A mentalidade do setor público no Rio Grande Norte, e em Natal especialmente, não pode continuar sendo a de que os nossos atrativos naturais por si, fazem a máquina turística se movimentar com o cansado turismo de sol e mar. A próxima estação chega com muitas expectativas positivas, graças ao trabalho incansável dos componentes do trade que não medem esforços e rodam o país mostrando seus hotéis e apresentando os diferenciais que ainda atraem visitantes.
Indiscutivelmente, Natal precisa ressignificar a sua maior atividade econômica. A prefeitura e o governo do estado precisam acabar com o distanciamento que a polarização política tem imposto e que só atrasos provocam. Natal precisa voltar a respirar ares de desenvolvimento a partir do turismo para que assim, o natalense possa voltar a ter orgulho da cidade acolhedora e promotora de melhorias econômica e social para sua gente.
Ao constatar o abandono a que a cidade enfrenta em seus principais atrativos turísticos, só nos resta perguntar de forma melancólica: Natal, o que estão fazendo com você?
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Fonte: saibamais.jor.br



