Já virou uma tradição brasileira, realizada nas redes sociais umas três ou quatro vezes por ano (em carnaval, verão etc) questionar o corpo da atriz Paola Oliveira. O modus operandi é sempre o mesmo e bem tedioso e simples. Basta a moça postar ou ser fotografada de biquíni, maiô, lingerie ou roupas de passista de escola de samba para começarem as enquetes virtuais: “Qual a sua opinião sobre o corpo da Paolla Oliveira?”.
A pergunta não é inocente, na verdade é meramente retórica. A pergunta em si já guarda uma resposta, já que vem invariavelmente acompanhada de fotos da atriz, com pouca roupa, como registrado, supostamente acima do peso. O que também invariavelmente atrai comentários – quase sempre masculinos, claro – de que Paolla estaria gorda, com muitas celulites etc e tal.
Ou seja, a suposta pergunta é apenas um gatilho para se criticar o corpo da atriz. Na minha humilde opinião, a moça está sempre linda e gostosa, não sou dado a padrões absolutos nem fixos de beleza, muito menos os colocados pela “ditadura do corpo perfeito”. Mas fico sempre chocado com a quantidade de homens (em maioria) e também mulheres que fez absoluta questão de comentar crítica e agressivamente o físico dela.
Porém a premissa, digamos, filosófica da questão é outra: por que eu, você ou qualquer pessoa teria o direito de avaliar ou julgar o corpo alheio, seja da bela Paolla, seja de modelos, atrizes, empresárias, políticas? Claro que a pergunta também é retórica. Naomi Wolf já escreveu que o corpo feminino está em constante julgamento. Em tempos de redes sociais, ainda mais.
Chama minha atenção um dos alvos preferenciais dessa patrulha ser Paolla Oliveira. A impressão que tenho é que ela desagrada aos caçadores de perfeição justamente por não buscar a “forma perfeita” que habita o imaginário de incels e red pills, que sabidamente não apreciam mulheres reais em situações reais, muito menos empoderadas, no sentido que não se preocupar com a aparência (lei-se medidas perfeitas) é uma forma de poder.
A atriz também deve atrair tanto ódio de gênero por uma razão complementar: nas fotos onde aparece “gorda”, para os padrões desse pessoal, também aparece feliz, seja sambando, na praia, comendo ou com o marido, o cantor Diogo Nogueira. Este um homem igualmente bem sucedido e bonito que, por sua vez, não recebe qualquer crítica ou julgamento por seu corpo, barba, cabelo, estilo ou roupas. É que quando se avalia homens, a coisa é outra. Privilégio masculino que fala, indiscutivelmente.
Mulheres fora dos padrões de medidas perfeitas, incomodam. Mulher com estrias e celulites, incomoda. Mulher feliz incomoda ainda mais. Uma pena ela, boa atriz e ótima profissional, madrinha de bateria de escola de samba e fisioterapeuta formada, seja para muita gente um corpo público a merecer julgamento coletivo de tempos em tempos. Pessoalmente, acho Paolla Oliveira uma mulher bonita, gostosa e divertida. Que pode e deve viver sem ter o corpo julgado pelo nada respeitável público. Minha única bronca é não ser convidado por ela e Diogo para papo e cerveja.
Fonte: saibamais.jor.br



