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Filme vai retratar impactos da energia eólica no RN e PB

O longa-metragem de ficção “Filho do Vento”, ainda em desenvolvimento, vai abordar os impactos sociais, ambientais e simbólicos da expansão da energia eólica no semiárido nordestino, com destaque para o Rio Grande do Norte e Paraíba.

A obra parte da observação das transformações provocadas por esse modelo de geração energética em territórios historicamente marcados por relações profundas entre comunidade, natureza e modos tradicionais de vida. O projeto nasceu com apoio do Edital de Fomento Audiovisual Potiguar. Atualmente, “Filho do Vento” se encontra na fase de finalização do roteiro. Após isso, a ideia dos roteiristas e idealizadores é buscar financiamento para a produção.

A obra será inspirada no conto “O filho do vento”, do escritor seridoense Manoel Matias, explica o proponente do projeto, o jornalista e produtor Raildon Lucena.

“A nossa equipe visitou várias localidades, tanto aqui no Rio Grande do Norte como na Paraíba, onde nós temos a questão das eólicas, e construiu um roteiro de ficção em cima dessa história que teve esse ponto de partida, levando em conta que, como foi um ponto de partida, a história teve outros desdobramentos, a partir do contato com comunidades.”

A proposta investiga como a instalação de usinas eólicas interfere não apenas na paisagem física, mas também nas dinâmicas sociais, afetivas e culturais das comunidades do interior dos dois estados. Sem assumir um tom panfletário, o projeto busca refletir sobre a necessidade de que até mesmo fontes de energia consideradas limpas e sustentáveis respeitem protocolos ambientais, sociais e culturais, sobretudo em regiões sensíveis como a caatinga.

Como etapa central do desenvolvimento do roteiro, os roteiristas passaram por localidades como Parelhas, com visitas ao Sítio Algodão e ao Sítio Várzea do Barro; Cerro Corá, passando pela Serra da Rajada (Casa de Pedra) e pela Serra Verde, onde se encontra um sítio arqueológico com geoformas; Lagoa Nova, na Comunidade Quilombola Macambira; Nova Palmeira (PB), na Comunidade Alagamar; e Santa Luzia (PB), com visitas aos Complexos Eólicos Canoas e Chafariz, além da Comunidade Quilombola do Talhado, abrangendo municípios do Rio Grande do Norte e da Paraíba.

Equipe vai buscar financiamento para a produção, que é inspirada no conto “O filho do vento”, do escritor seridoense Manoel Matias – Foto: divulgação

“Esse roteiro de ficção se distanciou um pouco da história inicial em si, e tiveram outros desdobramentos, justamente através dessas vivências. Então nós desenvolvemos esse roteiro, que agora vai para o primeiro tratamento e a gente vai tentar trabalhá-lo para futuros tratamentos para que a gente possa futuramente tentar viabilizar a produção desse filme”, explica Lucena.

A pesquisa, realizada ao longo de 2025, priorizou o contato direto com moradores, a coleta de relatos e a observação das paisagens naturais e sociais, reunindo vivências que subsidiaram a construção de uma narrativa ficcional comprometida com a realidade dos territórios visitados. Paralelamente, o projeto avançou para a fase de viagens de escrita, com reuniões de alinhamento criativo realizadas nos municípios de Caicó (RN) e Serra da Raiz (PB), etapa que resultou na elaboração do primeiro tratamento do roteiro, no aprofundamento dos personagens e do universo do filme, além da avaliação da viabilidade financeira do projeto. 

Segundo o cineasta Ed Junior, um dos responsáveis pelo roteiro, mesmo sendo um longa-metragem de ficção, a obra é lastreada em contextos sociais concretos. Ele diz que a equipe utilizou isso como matéria prima criativa, sem ter, entretanto, uma obrigatoriedade em retratar a realidade de forma objetiva. 

“De modo geral, nas ficções há uma liberdade criativa que opera em favor da potência narrativa do filme. Por sua vez, isso faz com que o roteirista faça um mergulho no tema e empreenda uma pesquisa adensada para que, a partir daí, consiga abordar o assunto de forma substancial e sem superficialidades. Na verdade, é um processo de retroalimentação em que o embasamento temático e a liberdade criativa se relacionam tendo o roteiro como objetivo”, aponta.

No processo criativo, o roteirista conta que, além das visitas de campo, a equipe buscou matérias de jornal, reportagens, diálogos com pessoas ligadas a movimentos sociais, trabalhos acadêmicos, dentre outros meios.

“As viagens de campo tiveram uma centralidade e importância imprescindível dentro do nosso projeto. Ter realizado esse itinerário nos permitiu um contato direto com pessoas atingidas por esses empreendimentos que convivem diariamente com desafios e malefícios causados pela implantação irregular de parques eólicos nas proximidades de suas residências”, explica ele. 

O cenário encontrado pelos municípios, conta, os deixou impactados. Moradores relataram problemas pessoais e materiais.

“São vários e incalculáveis os danos, que vão desde problemas de saúde como asma, insônia, ansiedade, dentre outros, até problemas de estrutura física como rachaduras em residências e cisternas e ainda perda de produtividade nas plantações e problemas na criação de animais e ainda na fauna e flora no geral, como perda na capacidade produtiva do solo, migração e abandono de espécies típicas da caatinga”, relata.

“Filho do Vento” é uma realização da Agência Referência, com roteiro assinado pelos cineastas Torquato Joel, Manoel Batista e Ed Junior. O projeto contou com apoio do Edital de Fomento Audiovisual Potiguar, da deputada federal Natália Bonavides (PT), da Fundação José Augusto, da Secretaria Estadual de Cultura e do Governo do Rio Grande do Norte.

Fonte: saibamais.jor.br

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