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Aquecimento global e seu impacto na saúde

A ocorrência do processo de mudanças climáticas, principalmente aquelas devidas ao aquecimento global induzido pela ação humana, foi pela primeira vez alertada na década de 1950. Mas, já no final do século XIX, o pesquisador sueco Svante Arrhenius havia levantado a possibilidade de que as atividades humanas causassem um aumento nas emissões de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera terrestre, o que resultaria no aumento da temperatura média.

Os primeiros registros sistemáticos de temperatura datam da década de 1850. Sua análise histórica permite reconhecer algumas tendências de aumento da temperatura média do planeta, que vem acompanhando o processo de industrialização e de emissão de gases resultantes da queima de combustíveis fósseis.

Ao longo dos anos 1980, cresceu a preocupação de pesquisadores ligados a questões ambientais com o impacto dessas mudanças sobre os ecossistemas. Na década de 1990, foram desenvolvidos modelos que permitiram, de um lado, explicar a variabilidade de clima ocorrida ao longo do século e, de outro, avaliar a contribuição de componentes naturais (vulcanismo, alterações da órbita da terra, explosões solares, etc.) e antropogênicos (emissão de gases do efeito estufa, desmatamento e queimadas, destruição de ecossistemas, etc.) sobre estas variações.

Além disso, o tratamento midiático dado a uma série de eventos extremos, do ponto de vista climático, e catastróficos, do ponto de vista social – como o furacão Katrina, que destruiu grande parte de Nova Orleans; as ondas de calor na Europa, em 2003, quando foi registrado um excesso de mais de 35 mil mortes; as enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024; as secas na Amazônia, nos últimos anos –, mesmo sem consenso para suas determinações causais, contribuiu para trazer à tona e reforçar o debate sobre as origens e os efeitos das mudanças climáticas em escala global.

Todos esses fatores têm impacto na saúde humana, causando doenças não transmissíveis, assim como ampliando lesões durante desastres naturais, desnutrição durante períodos de fome e aumento da mortalidade durante ondas de calor devido a complicações em pacientes com doenças crônicas. A exposição direta a desastres naturais também tem impacto na saúde mental e, embora complexa demais para ser quantificada, uma ligação foi estabelecida entre o clima e a violência civil.

O primeiro relatório global sobre as mudanças climáticas e a saúde foi publicado pela OMS em 1990. Durante a ECO-92, foi instalada a convenção sobre mudanças climáticas juntamente com as convenções sobre diversidade biológica e a desertificação. No entanto, o tema das mudanças climáticas somente tomou a mídia com maior intensidade nos últimos anos, repercutindo sobre agendas de governos e da pesquisa científica, bem como no imaginário popular Esse processo foi impulsionado tanto pela divulgação do 4º relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas em fevereiro de 2007, quanto pela ampla circulação do filme “Uma verdade inconveniente”, ganhador do Oscar de melhor documentário no mesmo ano.

Com o tempo, as mudanças climáticas podem causar a degradação do solo, reduzir os recursos agrícolas por meio da redução da disponibilidade de água, provocar alterações e redução das terras aráveis, desertificação, perda de biodiversidade, degradação de ecossistemas, acidificação dos oceanos aumento da poluição, acúmulo de substâncias tóxicas na cadeia alimentar e criação de habitats propícios à transmissão de patógenos humanos e animais. Pessoas que vivem em países de baixa renda são particularmente vulneráveis.

Em primeiro lugar, é importante destacar que o clima da Terra esteve, desde sempre, sujeito a mudanças, produzidas por ciclos longos ou curtos, que estão registrados na história da humanidade. Na Idade Média foram observados períodos de aquecimento seguido de um período de esfriamento, conhecido como pequena Era do Gelo.

Algumas das grandes ondas de migração humana, como as chamadas “invasões bárbaras” de povos do norte e leste em direção ao sul da Europa, e a entrada de grupos asiáticos no continente americano pelo Estreito de Bering, são em parte devido a fenômenos climáticos. Esses ciclos podem ter sua origem explicada por processos naturais ligados a alterações no eixo de rotação da Terra, explosões solares e dispersão de aerossóis emitidos por vulcões.

Outros fenômenos climáticos mais localizados no espaço e mais concentrados no tempo são bastante frequentes, como os furacões, enchentes decorrentes de chuvas intensas ou degelo, ondas de calor, etc. Até o século XX, esses fenômenos eram considerados como manifestações da “natureza” como uma concepção aristotélica, não podendo por isso ser controlados, previstos ou mitigados. Recentemente, muitos deles passaram a ser atribuídos a mudanças climáticas globais, o que, sem dúvida, constitui um exagero, muitas vezes estimulado pela mídia.

As mudanças climáticas representam um dos principais desafios de equidade ambiental e em saúde da nossa época, pois as doenças sensíveis ao clima afetam de forma mais intensa as populações mais pobres.  Muitos dos efeitos  climáticos sobre a saúde representam uma ameaça particular para pessoas pobres em países de baixa e média renda. Por exemplo, a taxa de mortalidade por doenças transmitidas por vetores é quase 300 vezes maior em países em desenvolvimento do que em países desenvolvidos, representando uma causa significativa de morte, impacto de doenças e iniquidade em saúde, um freio ao desenvolvimento socioeconômico e uma sobrecarga nos serviços de saúde.

Em ambientes urbanos, as condições climáticas locais, onde as pessoas vivem e trabalham, criam a maioria dos riscos diretos à saúde humana, como os causados pelo efeito de ilha de calor urbana. Portanto, efeitos mais indiretos sobre a saúde são frequentemente associados às mudanças climáticas globais ou regionais em larga escala.

Para o Brasil, alguns cenários de alterações climáticas são destacados por pesquisadores, como secas no Norte e Nordeste, enchentes no Sul e Sudeste e alterações significativas de ecossistemas, como a Caatinga, os manguezais,, o Cerrado, o Pantanal e a Amazônia.

Nos próximos anos, para conter o aquecimento global, serão necessárias tecnologias que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e o consumo de recursos hídricos. Haverá também uma demanda constante por garantir o acesso a alimentos e a disponibilidade de proteínas para a crescente população mundial, por meio de técnicas agrícolas que aumentem a produtividade sem esgotar o solo. Por fim, é importante não esquecer as exposições mais diretas e indiretas aos danos e aos resultados das mudanças climáticas.

O envolvimento do setor da saúde deverá lidar com o aumento das doenças relacionadas à poluição e aos eventos climáticos extremos, além de desenvolver conhecimentos e habilidades em programas locais de prevenção/adaptação a fim de reduzir os custos e o ônus decorrentes das mudanças climáticas. 

O sistema de saúde precisa fortalecer a atenção primária à saúde, desenvolver programas preventivos, dar atenção especial às comunidades e regiões vulneráveis, incentivar a participação da população no planejamento de base e na preparação para emergências, assim como desenvolver a capacidade de prever riscos futuros à saúde.

Para evitar a propagação de doenças infecciosas e transmitidas por vetores, será necessário estabelecer uma rede integrada de notificação de inquéritos veterinários, entomológicos e humanos, especialmente para evitar a introdução de novos agentes patogênicos humanos e animais.

Nos próximos anos, o engajamento do setor de saúde deverá concentrar-se no desenvolvimento de programas de prevenção e adaptação a fim de reduzir os custos e o ônus associados às mudanças climáticas.

A possível expansão de áreas de transmissão de doenças não pode ser compreendida como um regresso de doenças como a malária, febre amarela, dengue, leptospirose e esquistossomose, entre outras. Ou melhor, a possibilidade de retorno dessas doenças se dá sobre bases históricas completamente distintas daquelas existentes no século XIX.

As transformações sociais e tecnológicas ocorridas no mundo nas últimas décadas permitem antever que essas enfermidades adquiriram, ao longo do tempo, outras características, além dos fatores biológicos intrínsecos.

 A possibilidade de prevenir, diagnosticar e tratar algumas pessoas e excluir outras desses sistemas aprofundou as diferenças regionais e sociais de vulnerabilidade e transformou as desigualdades sociais em um importante diferencial de riscos ambientais.

Cabe à atenção primária à saúde, somada aos programas de prevenção dos adoecimentos transmissíveis e não transmissíveis, o desenvolvimento de ações preventivas aos adoecimentos resultantes dos eventos climáticos, em atenção especial, além de incentivar a participação comunitária e atuar na redução de suas vulnerabilidades sociais por meio de mudanças nos comportamentos individual, social e político, por um mundo mais justo e mais saudável.

Fontes: Observatório do Clima e Saúde, National Library of Medicine, Fundação Oswaldo Cruz, Revista Brasileira de Climatologia.

Fonte: saibamais.jor.br

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