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um debate sobre feridas abertas

Por Rômulo Sckaff*

O Natal, para além luzes, vitrines ou promessas de prosperidade individual, nasce como um gesto profundamente político e coletivo. Ele celebra o nascimento de um palestino pobre e torturado pelos políticos, que ousou discordar do conservadorismo e pagou com a própria vida. Um homem que falou contra o acúmulo de riquezas, que denunciou as desigualdades, que fez uma escolha clara pelos pobres, doentes, putas e oprimidos, pelos que estavam à margem.

Sua mensagem nunca foi sobre luxo, meritocracia ou sucesso pessoal. Era sobre partilha, justiça e coletividade.

Passados 2025 anos, seguimos debatendo as mesmas feridas abertas.

Seja na insegurança pública que atinge quase exclusivamente os pobres como no Rio de Janeiro ou em Mãe Luiza, a violência de Estado que recai sobre corpos negros, a intolerância religiosa que criminaliza quem encontra no tambor, no canto e no rito ancestral uma forma legítima de elevação espiritual, ou na violência vergonhosa e gratuita além de desnecessária contra as mulheres.

Mudaram as roupagens do poder, mas a lógica da exclusão permanece insistente, tentando naturalizar o sofrimento como destino.

Celebrar o Natal é lembrar que aquela criança nasceu sob ocupação, perseguição e medo. Que cresceu pregando uma sociedade baseada no cuidado coletivo, não na competição.

Que enfrentou tanto o poder imperial romano quanto as elites religiosas e política de seu tempo, e por isso foi morto, num pacto de conveniência entre dominação política e intolerância religiosa.

Sua morte não foi um acidente, foi uma escolha do sistema contra quem ousou anunciar outro mundo possível.

Hoje, somos convocados a retomar essa caminhada. Não como repetição vazia de símbolos, mas como compromisso real com um novo ciclo de esperança. Uma esperança social, que enfrente as desigualdades estruturais.

Uma esperança justa, que reconheça direitos e dignidade a todos. A esperança igualitária, que não selecione quem merece viver ou morrer.

Que esse Natal nos empurre para a construção de uma nova ideia de sociedade. Sem ódio ao divergente, mas com firmeza na defesa da vida coletiva. Sem violência como método, mas com coragem para enfrentar injustiças históricas. Que sigamos, com consciência e responsabilidade, o caminho daquele palestino que foi morto por judeus e romanos, cuja mensagem atravessou os séculos como um chamado permanente ao socialismo, à justiça e à transformação do mundo.

Rômulo Sckaff é historiador e cineasta

Fonte: saibamais.jor.br

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