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RN tem 12 laboratórios para processar cocaína, identifica estudo

O Rio Grande do Norte possuía em funcionamento ao menos 12 laboratórios para processamento de cocaína entre 2019 e julho deste ano. Os números fazem parte da publicação “Floresta em Pó”, organizada pela Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas e a Drug Policy Reform & Environmental Justice International Coalition, com o apoio de outras organizações. 

O estudo foi divulgado em 30 de outubro. Em todo o país, o levantamento identificou um total de 550 laboratórios, um número 32,4 vezes maior do que os 17 laboratórios oficialmente reportados pelos órgãos de segurança consultados.

O Rio Grande do Norte aparece em 16º no ranking das unidades federativas com mais laboratórios de processamento identificados, empatado com o Espírito Santo. O primeiro lugar é de Goiás (125), seguido por Amazonas (42), São Paulo (37), Minas Gerais (34) e Mato Grosso (29). Na outra ponta, surgem Roraima (3), Piauí (3) e Rondônia (5). 

Dos 12 laboratórios identificados no RN, oito estão em Natal. São Gonçalo do Amarante aparece com dois registros, seguido por Mossoró e São José de Mipibu, com um laboratório cada. Eles atuam, em sua maioria, para a adulteração ou “engorda” da cocaína; 11 estão localizados em áreas urbanas e somente um no meio rural. 

Havia ainda um 13º laboratório identificado com o RN, apontado para o município de São Leopoldo — que não existe no estado potiguar. O professor Daniel Edler, pesquisador do Instituto Fogo Cruzado e do Instituto de Ciências Sociais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), confirmou se tratar de uma inconsistência. O laboratório, na verdade, fica no Rio Grande do Sul.

Laboratórios de processamento de cocaína no RN

Município Bairro Tipo de laboratório Tipo de área Cadeia logística Tamanho do laboratório
Natal Planalto Adulteração ou “engorda” Urbano Não identificado Médio (2kg a 20kg)
São José de Mipibu Comunidade do Mendes Não identificado Rural Não identificado Não identificado
Natal Comunidade do Paço da Pátria Refino Urbano Não identificado Pequeno (até 2kg)
São Gonçalo do Amarante Não informado Adulteração ou “engorda” Urbano Varejo Grande (20kg a 200kg)
Natal Dix-sept Rosado Refino Urbano Atacado Grande (20kg a 200kg)
Natal Quintas Adulteração ou “engorda” Urbano Atacado Médio (2kg a 20kg)
Natal Nossa Senhora da Apresentação Adulteração ou “engorda” Urbano Varejo Médio (2kg a 20kg)
Mossoró Presidente Costa e Silva Adulteração ou “engorda” Urbano Varejo Não identificado
São Gonçalo do Amarante Não informado Adulteração ou “engorda” Urbano Atacado Grande (20kg a 200kg)
Natal Não informado Adulteração ou “engorda” Urbano Atacado Médio (2kg a 20kg)
Natal Bom Pastor Adulteração ou “engorda” Urbano Não identificado Grande (20kg a 200kg)
Natal Felipe Camarão Adulteração ou “engorda” Urbano Atacado Muito grande (acima de 200kg)

Fonte: Floresta em Pó

A identificação de laboratórios surgiu a partir de pedidos formais feitos via Lei de Acesso à Informação (LAI) para órgãos de governo e um cruzamento com informações coletadas na imprensa ou conteúdo oficial de órgãos públicos.

Ainda assim, segundo o estudo, esse número pode ser maior por dois motivos: é possível que uma parte dos laboratórios não tenha sido registrada e, por se tratar de uma atividade ilícita, apenas os laboratórios identificados por forças policiais do Estado foram reportados.

Em média, estima-se que as apreensões policiais afetem apenas entre 10% e 20% do mercado global de drogas. Ao adotar este índice como baliza também para as estruturas de refino e adulteração da cocaína, os pesquisadores estimam em mais de 5 mil laboratórios em operação no país.

Laboratórios de processamento de cocaína

GO: 125

AM: 42

SP: 37

MG: 34

MT: 29

PR: 25

BA: 24

RS: 23*

DF: 22

MS: 20

PA: 18

CE: 15

AL: 14

PB: 14

SE: 14

RN: 12

ES: 12

SC: 11

AC: 10

RJ: 10

TO: 9

AP: 7

PE: 7

MA: 5

RO: 5

PI: 3

RR: 3

Locais identificados por unidade da federação de janeiro de 2019 a julho de 2025 – Fonte: Floresta em Pó

De acordo com a publicação, cujo capítulo sobre os laboratórios foi produzido pelo Instituto Fogo Cruzado, nos últimos anos o Brasil tem se caracterizado como relevante mercado consumidor e entreposto para a exportação da droga cultivada nos países andinos rumo à Europa. Se antes a atividade de refino parecia ser apenas residual, dizem os pesquisadores, indícios recentes apontam para uma mudança de cenário, com cada vez mais pasta base entrando no país, sendo posteriormente refinada tanto para o consumo interno quanto para exportação.

A Agência SAIBA MAIS tentou, desde 4 de dezembro, o contato com diferentes representantes da polícia para comentar os dados levantados pelo estudo Floresta em Pó. A Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed) recomendou, no início do mês, buscar a Delegacia Especializada de Narcóticos (Denarc), da Polícia Civil. Procuramos, então, a assessoria da Polícia Civil ao menos sete vezes, sem conseguir obter um posicionamento ou entrevista. Já em 18 de dezembro, também procuramos a assessoria da Polícia Federal, que informou que buscaria o delegado responsável pela área. Sem devolutiva após isso, contatamos novamente a PF na segunda-feira (22), que informou que o delegado está de férias até o início de janeiro. Sem sucesso, procuramos novamente a Sesed nesta terça (23), dia de fechamento da reportagem, mas a pasta informou que o secretário estaria com agenda cheia.

RN na rota da cocaína

Outro capítulo do estudo “Floresta em Pó”, desta vez produzido pelo Instituto Mãe Crioula, coloca o Rio Grande do Norte no mapa da rota da cocaína.

Grande parte dessa movimentação acontece via Porto de Natal, que segundo os pesquisadores se apresenta como um eixo estratégico para o tráfico internacional, principalmente por sua proximidade com a Europa e pelas linhas diretas de exportação de frutas para Roterdã, Lisboa e Hamburgo. 

Em 2020, foi registrada uma das maiores apreensões da história do estado: 1,5 tonelada de cocaína escondida em contêineres de melão. Dois anos depois, novas operações identificaram ramificações do PCC e do Sindicato do Crime, facção potiguar que disputa território e rotas com organizações paulistas.

Recentemente, em setembro deste ano, agentes da Polícia Civil e Receita federal apreenderam aproximadamente 1,2 tonelada de cocaína na Praia da Redinha, em Natal — uma carga ilícita avaliada em mais de R$ 150 milhões. 

Na etapa inicial da operação, realizada durante a madrugada, os agentes localizaram cerca de 600 kg do entorpecente sendo transportados em um veículo que apresentava indícios de que a carga seria embarcada no Porto de Natal. Já pela manhã, as equipes da Receita Federal e Polícia Civil localizaram outros 600 kg de cocaína em uma área de prainha, próxima a um manguezal, também na Redinha. A suspeita é de que o material tenha sido abandonado pelos investigados ao perceberem a aproximação das autoridades. Três pessoas foram presas.

Mercado da cocaína no Brasil

Um relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e do Instituto Esfera estima que o tráfico gere um faturamento de R$ 335 bilhões, o equivalente a 3,98% do PIB. Considerando as etapas de produção e distribuição, a publicação “Floresta em Pó” aponta que a maior parcela do dinheiro da cocaína está no atacado (60%), seguida pelo varejo (22%), pelo beneficiamento com produção de pasta base (8,99%) e base da droga (9%). O cultivo da coca movimenta apenas 0,01%.

Não há dados governamentais sobre os valores movimentados especificamente pelo refino, mas é possível estimar a partir de informações produzidas por pesquisas recentes. No caso do Brasil, considerando a estimativa que a indústria da cocaína faturou, em 2024, US$ 65,7 bilhões, apenas a atividade de refino poderia movimentar cerca de US$ 6 bilhões por ano, um faturamento semelhante ao de empresas como a Embraer e o Grupo Boticário.

Segundo o estudo, o refino no Brasil apresenta duas dinâmicas centrais: 

• Pequena ou média produção — geralmente de crack — ligada ao varejo local (39,6% dos laboratórios de refino)
• Larga produção de base de cocaína ou cloridrato de cocaína voltada para o atacado (47,1% dos laboratórios de refino). 

Entre os efeitos “diretos” do refino de cocaína no meio ambiente, estão a alta emissão de CO₂ na atmosfera, os riscos de acidentes, incêndios e intoxicações e a contaminação de recursos hídricos. Já os principais efeitos “indiretos” da proibição que gera essa estrutura de refino se relacionam ao financiamento de outras atividades ilegais e ao uso da influência política e dos braços armados do tráfico de drogas para corromper agentes públicos e evitar a fiscalização. Para as comunidades e defensores ambientais, isso se traduz em aumento de mortes e ameaças.

Fonte: saibamais.jor.br

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