A xamã Anna Xará recebeu integrantes do Fórum de Diálogo Inter-religioso do Rio Grande do Norte em uma confraternização que reuniu cerca de 50 pessoas, entre lideranças e representantes de diferentes tradições religiosas, em um gesto simbólico de convivência e respeito em tempos de crescente intolerância. Ocorrido na Aldeia Gaia, em Pium no último domingo (28), o evento foi marcado pelo diálogo, pela diversidade e pela defesa da vida.
O encontro teve como objetivo principal a confraternização entre os membros do Fórum, criado em 2019 com a proposta de aproximar religiões distintas e construir pontes de diálogo em uma sociedade plural. Além do caráter celebrativo, a reunião também teve um momento deliberativo, especialmente voltado à organização do ato público do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado em 21 de janeiro.
Atualmente, o Fórum de Diálogo Inter-religioso é coordenado por um pastor evangélico e tem como vice-coordenador um imã muçulmano, refletindo, já em sua estrutura, o compromisso com a diversidade. O grupo congrega representantes de matrizes africanas, candomblecistas, juremeiros, kardecistas, lideranças do xamanismo, da arte mahikari, do bahaísmo, do islamismo, do Hare Krishna, além de cristãos de diferentes vertentes, como católicos apostólicos romanos, veterocatólicos, anglicanos, ortodoxos e protestantes em geral.
Ao dar as boas-vindas aos participantes, a anfitriã do encontro destacou o caráter humanitário comum às diferentes crenças. “Todos aqui dedicam suas vidas para ajudar os próximos”, afirmou a xamã Anna Xará, ressaltando a importância de espaços que promovam escuta, acolhimento e convivência entre tradições diversas.
Coordenador do Fórum, o pastor Gleidson Antônio enfatizou o aprendizado coletivo proporcionado pelo diálogo inter-religioso. “Tenho aprendido com vocês sobre a humanidade”, disse. Em outra fala, ele reforçou a dimensão simbólica do encontro: “Somos o povo caminhando pela terra, esperando o que ainda está por vir”.
Um dos momentos mais marcantes da confraternização foi a presença do arcebispo emérito de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, que destacou a importância do ecumenismo em sua trajetória religiosa. “Minha experiência de bispo valorizou a experiência ecumênica. Hoje estamos numa época de jejum de ideias, de pensamentos, alcançamos um esvaziamento”, afirmou. Ao mesmo tempo, Dom Jaime ressaltou que a pluralidade contemporânea pode ser uma fonte fértil de renovação. “Temos uma sociedade cada vez mais plural, de onde podem vir novas ideias, o que é muito bom. É tempo de recriar. Tempo de recomeço”, completou, agradecendo a oportunidade de participar do encontro.
Para o diácono Francisco Adilson da Silva, o momento ganha ainda mais relevância diante dos desafios atuais. “É um momento muito importante num tempo em que a gente vê tanta ameaça à vida”, afirmou, reforçando o papel das religiões na promoção da paz e da dignidade humana.
Durante a parte deliberativa da reunião, os integrantes do Fórum definiram diretrizes iniciais para o ato do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que deverá ocorrer no dia 21 de janeiro, a partir das 16h, em uma praça pública da cidade. O local exato ainda não foi confirmado, pois depende de liberação do poder público, mas a proposta é realizar um ato aberto, plural e simbólico, reafirmando o direito à liberdade religiosa.
A data foi instituída pela Lei nº 11.635/2007 e homenageia a ialorixá Mãe Gilda de Ogum, nome religioso de Gildásia dos Santos e Santos, vítima de perseguição e violência religiosa em Salvador, onde seu terreiro foi alvo de ataques. Mãe Gilda morreu em 21 de janeiro de 2000, após sofrer um infarto, e se tornou símbolo da luta contra a intolerância religiosa no Brasil.
Ao reunir diferentes crenças em torno do diálogo e da convivência, o encontro na Aldeia Gaia reafirmou o papel do Fórum de Diálogo Interreligioso como um espaço de construção coletiva e defesa da diversidade religiosa no Rio Grande do Norte. Em meio a diferenças doutrinárias, o grupo segue unido pela convicção de que o respeito mútuo é um valor essencial para a democracia e para a promoção da paz social.
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Fonte: saibamais.jor.br




