28.4 C
São Gonçalo do Amarante
spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
InícioAtualizaçõesAto político e cultural lembra 90 anos da Insurreição Comunista de 1935...

Ato político e cultural lembra 90 anos da Insurreição Comunista de 1935 em Natal

O Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP) a Rede de Direitos Humanos (DHNET) realizaram um ato político/cultural no bairro das Rocas, no último domingo (23), para iniciar as comemorações pelos 90 anos da Insurreição Comunista de 1935 em Natal. O levante fez a capital potiguar entrar para a história como a única cidade brasileira que, durante quatro dias, entre 23 e 27 de novembro daquele fatídico ano, esteve sob o controle de militares sublevados e de ativistas ligados à Aliança Nacional Libertadora (ANL) e ao Partido Comunista do Brasil (PCB).

Para alguns historiadores, esse que foi o primeiro e único governo provisório de inspiração comunista instalado numa capital brasileira é considerado também a primeira experiência comunista da América Latina.

O levante fez parte de uma articulação nacional mais ampla, planejada para derrubar o governo de Getúlio Vargas. Em Natal, o movimento começou antes do plano centralizado, na madrugada de 23 de novembro de 1935.

Nos dias seguintes, a junta revolucionária nomeou um Comitê Popular Revolucionário e tentou organizar serviços básicos e a administração local. Apesar de ter durado apenas 4 dias, o levante adotou a gratuidade nos transportes, garantia de alimentação a toda a população e lançou o jornal “A Liberdade”, que tinha como objetivo agitar o programa da Aliança Nacional Libertadora.

A derrota do movimento, segundo historiadores, decorreu de uma combinação de fatores estratégicos e de coordenação: o levante foi precipitado em algumas praças, faltou adesão de guarnições decisivas e não houve capacidade logística e política para ampliar a mobilização popular além de núcleos urbanos e castrenses.

Ao mesmo tempo, a repressão estatal foi rápida e contundente: o governo federal decretou estado de sítio, prendeu milhares de militantes e reprimiu duramente os revolucionários. O resultado foi o sufocamento do movimento em poucos dias e o encarceramento de dirigentes nacionais e locais.

Cortejo nas Rocas homenageou líderes revolucionários de Natal

Foto: Elizabeth Olegário

O levante foi relembrado com um cortejo de bonecos gigantes de José Praxedes de Andrade, Giocondo Dias Amélia Reginaldo e Leonilda Félix, militantes revolucionários que participaram da Insurreição de 1935 em Natal.

O bairro das Rocas foi escolhido por ser palco de muitas lutas populares em Natal, segundo o coordenador do DHNET, Roberto Monte. As comemorações continuam na próxima quinta-feira (27), com um ato político no Campus Cidade Alta do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN).

A programação, com início às 17 horas, incluirá palestras, leituras poéticas e descerramento de uma placa em homenagem a José Praxedes de Andrade, o sapateiro que nasceu em uma comunidade pobre às margens do Rio Potengi, fundou a União dos Sapateiros em 1921 e se filiou ao PCB em 1926.

Praxedes estudou no antigo “Liceu Industrial”, instituição que deu origem ao IFRN. Foi lá, no início do século XX, onde adquiriu o “estofo técnico” que o tornou um sapateiro habilidoso, profissão que exerceu durante toda a sua vida, inclusive na clandestinidade.

Praxedes, que ficou conhecido como “Lenin Papa-Jerimum”, foi preso em 1930, a mando de João Café Filho, então chefe de polícia do Rio Grande do Norte, nomeado para o cargo após a chamada “Revolução de 1930” de Getúlio Vargas.

Em 1932, ele foi preso pela segunda vez, mas conseguiu escapar e se refugiar no Rio de Janeiro até 1933, quando foi designado pelo PCB para participar de um curso de formação em São Paulo.

O “Lenin Papa-Jerimum”

Foto: Reprodução

O futuro revolucionário, descrito como alguém que “dedicou sua vida à luta pela liberdade e pelo socialismo” pelo jornalista Moacyr de Oliveira Filho, autor do livro “Praxedes, Um Operário no Poder – A Insurreição Comunista de 1935 vista por dentro”, publicado em 1985 pela editora Alfa-Omega, voltou ao RN em 1935, quando deu início à preparação da Insurreição Comunista.

Em depoimento a Moacyr Oliveira, Praxedes disse que, apesar do insucesso do levante, a experiência da Insurreição Comunista de 1935 deixou um ensinamento importante.

“Quanto mais glórias se produz, mais glórias se colhe. A Insurreição mostrou, também, que quando o povo se revolta e pega em armas contra um regime de arbítrio ele pode sair vitorioso. Essa foi sua grande lição”, comentou o revolucionário, que viveu 50 anos na clandestinidade e passou a se chamar Eduardo Pereira da Silva desde 1938.

Apagamento” da Insurreição de 1935 faz parte das “estratégias de repressão aos movimentos populares no país”, diz professor

Foto: Cedida

Para o mestre, doutor e pós-doutorando em História pela UFRN, João Maurício Gomes Neto, “o debate – ou a quase ausência dele – em torno da Insurreição de 1935 no Rio Grande do Norte, mais precisamente em Natal, tem algo que expressa a própria historicidade do evento”.

“Ele evidência como operam as estratégias de repressão aos movimentos populares no país: violência, perseguição, punição e apagamento da história (políticas de esquecimento)”, avaliou.

O historiador diz lembrar que um antigo professor seu “fazia chacota” do levante popular: “Ao tratar do evento, carregava as tintas, sob a perspectiva de um discurso de manutenção da ordem pública, sem tecer qualquer consideração a respeito das condições de trabalho e lutas sociais do período”.

De acordo com ele, “essa versão exclusivamente depreciativa, tão difundida no estado, é um projeto de destruição das memórias de lutas populares que atravessam nossa história”.

“Não somos apenas a pátria do esquecimento. O apagamento histórico é um projeto de desmobilização social. Ganham com isso os grupos sociais que se mantém no poder e alimentam a estrutura vigente, reforçando assim a defesa dos próprios interesses”, criticou.

O historiador destacou que comemorar a Insurreição de 1935 “carrega consigo, ainda, a potência da luta e centelhas de esperança”. “Ela ergue algumas barricadas contra o silenciamento e o apagamento histórico que têm sido levados a termo como projeto de saber e de poder”, completou.

Fonte: saibamais.jor.br

Veja ainda
spot_imgspot_imgspot_imgspot_img

Em alta