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Mulher agredida com 61 socos sofre ataques nas redes após apoiar prisão de Bolsonaro

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Mulher agredida com 61 socos sofre ataques nas redes após apoiar prisão de Bolsonaro

A estudante Juliana Soares Garcia, vítima de tentativa de feminicídio com 61 socos aplicados pelo seu ex-namorado, Igor Cabral, denunciou que foi alvo de ataques nas redes sociais após se posicionar favoravelmente à prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os ataques tiveram início no sábado (22), dia em que o ex-presidente teve a prisão preventiva decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a pedido da Polícia Federal. Um perfil bolsonarista divulgou um vídeo da estudante fazendo uma ironia com a data da notícia, que coincide com o número do PL, partido de Bolsonaro: “Bom dia. Vinte e dois motivos para sermos felizes hoje”, disse ela.

“Vídeo: Juliana Garcia, vítima de 61 socos, comemora prisão de Bolsonaro”, diz a manchete da publicação do perfil bolsonarista que compartilhou o vídeo de Juliana. Nos comentários, seguidores da página fizeram uma série de ataques machistas, misóginos e violentos, muitos deles, inclusive, comemorando a violência que ela sofreu, dizendo que a verdadeira vítima tinha sido o seu agressor, Igor Cabral.

“Também comemorei os 61 quando descobri quem era”, escreveu o perfil fake identificado como @dodge_arj, que usa a foto de um pitbull. Em seu feed, ele compartilha vídeos contra o presidente Lula (PT) e chamando a condenação de Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado de “maior farsa da história”.

Adriana Simplício (@adriana_sampaio_43), outra seguidora da página bolsonarista, comentou “eu nunca me enganei, o rapaz que é a vítima”, numa referência ao agressor Igor Cabral.

“O tempo inocentou o bombado, ela tá fazendo a gente sentir um pouquinho do ódio que ela fazia aquele cara sentir”, escreveu outro seguidor, identificador apenas como Bruno “(@_brunno.25).

Os comentários em tom de ódio não pararam por aí. Eleide Galvão (@eleidegalvao) escreveu: “Deixa ela, talvez esse rapaz meteu porrada por ela ser atrevida, eu até defendi ela, mais [sic] agora estou vendo a personalidade dela”.

João Telles Coi (@joaocoi) disse que era uma “pena” que “foram 61”, numa referência ao número de socos que Igor Cabral aplicou em Juliana Soares.

No mesmo tom, Letícia (@leticia.debor4) afirmou que a estudante deveria “levado mais do que 61 [golpes]”. Geovanna Fernandes (@geofernande_ss) comentou que o tempo estava “inocentando” o agressor de Juliana.

Publicação tem objetivo de “gerar ódio”, comentou seguidor

O vídeo teve, até a publicação dessa matéria, mais de 200 mil visualizações, quase três mil curtidas e mais de 1.700 comentários, que, em sua maioria, foram negativos.

Marla Santana (@marlavanessa2707) foi uma das poucas seguidoras da página que saíram em defesa de Juliana. “A opinião política dela não tira o fato de que ela foi brutalmente agredida. Estou em choque com os comentários de homens e principalmente de mulheres falando que ‘foi pouco os 61 socos’, ‘deveria ser mais de 100’, ‘os socos levaram seus neurônios’, entre outros. Estou enojada com tanta maldade, com tanta falta de entendimento das pessoas”, protestou ela.

“Opinião política não muda o fato de que ela é SIM VÍTIMA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e, meu povo, contra fatos não há argumentos”, completou a seguidora.

Para Danilo Miranda (@danilomj86), a publicação tem como único objetivo “gerar ódio desnecessário” contra Juliana Soares.

Não tolero discurso de ódio, machismo, misoginia nem xenofobia”, diz Juliana

A estudante reagiu aos ataques expondo, em suas redes sociais, os autores dos comentários com discurso de ódio.

Em outro vídeo, ela respondeu aos ataques reafirmando seu posicionamento político contrário ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Vocês estão querendo me cancelar pela minha posição política, é sério isso? Vocês acham mesmo que eu vou apoiar xenofóbico, misógino, machista, que acha que eu como mulher sou fruto de uma fraquejada? Eu odiaria ser confundida com o outro lado”, disse a estudante, que negou ainda uma suposta candidatura a vereadora e reafirmou que não tem “partido nenhum”.

Juliana também afirmou que não tolera “discurso de ódio, misoginia, xenofobia e nem quem acha que, por ser homem, é melhor do que eu ou do que qualquer outra mulher. Ninguém precisa concordar comigo, mas também não precisa me atacar”.

Reações políticas

A deputada federal Natália Bonavides (PT) manifestou solidareidade a Juliana após os ataques sofridos pela estudante depois de se posicionar favoravelmente à prisão preventiva de Bolsonaro.

“A violência de gênero não pode ser naturalizada. Mulheres que ocupam o debate público seguem enfrentando tentativas de silenciamento, mas não nos calarão. Seguiremos unidas e firmes na defesa da democracia”, escreveu a parlamentar.

Juliana agradeceu pelo apoio dizendo que “não iremos sucumbir”. “Obriaga pelo apoio, não esperava menos”, escreveu ela nos comentários da publicação da petista.

A vereadora Samanda Alves, presidente estadual do PT, condenou os ataques contra Juliana. Em mensagem publicada nas redes sociais, ela escreveu que “alguns ‘cidadãos de bem’ surtam quando uma mulher tem opinião política e aí partem pra ofensa e violência”.

“Toda minha solidariedade a Juliana Soares. Fica claro por que apoiam bandido: cometem crimes de forma covarde pela internet. Que sigam espumando, porque a gente segue falando”, declarou.

A vereadora Brsia Bracchi (PT) também saiu em defesa de Juliana Soares. Em publicação nas redes sociais, a petista disse que “ataques e intimidação contra mulheres não podem ser normalizados” e que “seguimos firmes pelo respeito e pela democracia”.

Juliana já foi vítima de outros ataques nas redes sociais

Essa, no entanto, não é a primeira vez que Juliana sofre ataques pela internet após ser agredida pelo ex-namorado, Igor Cabral, que está custodiado à espera de julgamento na Cadeia Pública de Ceará-Mirim.

No final de agosto, em entrevista ao programa “Encontro”, ela revelou que recebeu uma ameaça anônima de uma pessoa dizendo que “ia dobrar a agressão” que ela sofreu no dia 26 de agosto dentro do elevador de um condomínio no bairro de Ponta Negra, na Zona Sul de Natal.

“Isso mexeu muito comigo, me deixou muito angustiada em saber que tem pessoas que ainda pensam desse modo. Eu não posso nem contar ao vivo o que me falaram, mas era algo referente a dobrar a agressão que eu sofri. Literalmente dizendo que viria a Natal para me dar 121 socos”, contou.

Juliana confessou que ainda lida com as marcas psicológicas provocadas pelo trauma que viveu. “Estou sempre em estado de vigília”, revelou, acrescentando que desenvolveu alguns comportamentos que não apresentava antes da tentativa de feminicídio.

A violência também impactou a autoestima de Juliana, o que a fez usar máscara durante muito tempo enquanto ainda se recuperava das cirurgias para reconstrução do seu rosto, que ficou desfigurado após as agressões de Igor Cabral.

“Eu uso a máscara no sentido de me sentir mais confortável mesmo. Tudo isso que passou mexeu muito com a minha autoestima e por mais que o meu corpo esteja respondendo muito bem, eu ainda me sinto insegura”, admitiu.

Ela contou que, após fazer uma aparição pública sem máscara, quando foi homenageada na Câmara Municipal de Natal (CMN), se chocou com os comentários negativos que recebeu na internet.

“Eu li através das redes sociais comentários negativos em relação à recuperação. As pessoas têm uma certa dificuldade de entender que o tempo de cicatrização demora e que isso afeta a nossa imagem e também o nosso processo de cura psicológica”.

Depois do vídeo se posicionando a favor da prisão preventiva de Bolsonaro, os ataques de ódio voltaram a mirar na aparência de Juliana. Em tom jocoso, os comentários debocham da cara, da voz e do corpo da estudante.

“Além de ter ficado com a cara torta, ainda tem essa voz de traveco. Foi muito anabolizante que você tomou?”, comentou Leandro Dezaiaman (@dezaiman.86).

Em tom ainda mais agressivo, Gislaine Israel (@gislaineisrael) chamou a estudante de “coitada” e “doida” e, em mensagem enviada a ela, disse que “faltou os meus 22 socos na sua cara”.

Por outro lado, os ataques despertaram uma onda de solidariedade a Juliana, com diversas manifestações de repúdio às agressões, ao discurso de ódio e à incitação à violência de gênero.

Saiba Mais: Juliana Soares diz que recebeu ameaça falando em “dobrar a agressão” que sofreu

Matheus Faustino espalhou boato sobre candidatura a vereadora de Juliana pelo PT

A estudante também desmentiu, no início de outubro, que tivesse a intenção de ser candidata a vereadora de Natal, como havia afirmando o vereador Matheus Faustino (União Brasil).

Em publicações nas redes sociais, o parlamentar questionou se Juliana se filiaria ao PT e, mesmo admitindo que a estudante não havia confirmado o boato, insistiu na especulação afirmando que “é o que todos os veículos de imprensa já estão dizendo”.

Juliana respondeu pelas redes sociais dizendo que não tem “nenhuma ligação partidária”, que participa de “comemorações e eventos” de ambos os lados políticos e que “nunca foi sobre partido”.

A minha pauta é apartidária e eu frequento os lugares que me forem convenientes e que eu for tratada com respeito. Parem de inventar fake News com meu nome e imagem”, protestou a estudante.

Faustino baseou a fake news em publicações nas redes sociais em que Juliana Soares aparece ao lado de petistas como a governadora Fátima Bezerra e as vereadoras Samanda Alves e Brisa Bracchi, contra quem ele move uma cruzada para cassar seu mandato na Câmara Municipal de Natal.

Para o vereador, uma eventual filiação de Juliana ao PT seria “uma hipocrisia”, porque, segundo ele, o partido “votou contra a saidinha de presos”, o que poderia fazer com que o agressor dela fosse solto “no final no ano”.

A informação, no entanto, também é falsa. Igor Cabral não tem direito à saída temporária porque sequer foi julgado ainda.

O benefício, previsto nas Lei de Execuções Penais (LEP), só é concedido a presos em regime semiaberto, que até a data da saída tenha cumprido um sexto da pena total se for primário ou um quarto se for reincidente.

Saiba Mais: Juliana Soares desmente fake news de Matheus Faustino sobre filiação ao PT



Fonte: saibamais.jor.br

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