Ao contrário do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), expulso do Plenário da Câmara com truculência pela Polícia Legislativa, na noite da última terça-feira (9), os parlamentares potiguares que participaram do motim no Congresso Nacional, em protesto contra a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), não sofreram nenhuma punição do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Os bolsonaristas ocuparam a Mesa Diretora da Câmara e do Senado nos dias 5 e 6 de agosto após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decretar a prisão preventiva de Jair Bolsonaro. O objetivo de motim era forçar, entre outras pautas, a votação do “PL da Anistia” aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
O grupo também exigia que fosse pautada a votação do impeachment do ministro Alexandre de Moraes e da “PEC da Blindagem”. O motim só foi debelado depois de Hugo Motta se comprometer com os bolsonaristas que colocaria em votação o PL da Anistia.
Depois de quatro meses, quando todos pensavam que o assunto já havia esfriado, Hugo Motta entregou a fatura ao colocar em votação, na noite de ontem, o projeto que reduz as penas dos condenados de 8 de janeiro de 2023 e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No mesmo dia, Hugo Motta anunciou a votação do pedido de cassação de Glauber Braga, que foi condenado no Conselho de Ética por quebra de decoro ao revidar a um ataque de um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL).
O parlamentar do Rio de Janeiro, então, protestou contra a inclusão do seu caso na pauta ocupando a Mesa Diretora. A reação da Polícia Legislativa, retirando-o do plenário com um golpe de gravata, a mando do presidente Hugo Motta, foi diferente do tratamento dado aos bolsonaristas que, durante dois dias, se amotinaram no Congresso Nacional.
Motim no Congresso Nacional teve adesão de bolsonaristas do RN

O grupo dos amotinados contou com a participação dos bolsonaristas da bancada do Rio Grande do Norte. Na Câmara, aderiram ao que ficou conhecido como “protesto do esparadrapo” a deputada federal Carla Dickson (União Brasil) e os deputados federais General Girão (PL) e Sargentos Gonçalves (PL).
Da bancada do Senado, Rogério Marinho (PL), líder da oposição, foi o único a apoiar a “posição radical”, como ele mesmo se referiu ao motim, com o intuito de anistiar Jair Bolsonaro.
Hugo Motta encaminhou à Corregedoria da Casa os nomes de 15 parlamentares que participaram do motim, mas excluiu da lista Carla Dickson, General Girão e Sargento Gonçalves (PL).
Os nomes encaminhados à Corregedoria da Câmara foram os dos deputados federais Marcos Pollon (PL-MS); Zé Trovão (PL-SC); Júlia Zanatta (PL-SC); Marcel van Hattem (Novo-RS); Paulo Bilynskyj (PL-SP); Sóstenes Cavalcante (PL-RJ); Nikolas Ferreira (PL-MG); Zucco (PL-RS); Allan Garcês (PL-TO); Caroline de Toni (PL-SC); Marco Feliciano (PL-SP); Bia Kicis (PL-DF); Domingos Sávio (PL-MG); Carlos Jordy (PL-RJ); e Camila Jara (PT-MS).
A deputada do PT apareceu na lista porque foi acusada de empurrar o colega Nikolas Ferreira no plenário, mas a parlamentar nega. Os demais são acusados de obstruir os trabalhos legislativos da Câmara dos Deputados.
Ao anunciar os nomes dos parlamentares à Corregedoria, Hugo Motta disse que o órgão investigaria a conduta dos deputados e poderia afastá-los por até seis meses de suas funções. As medidas, no entanto, precisam ser votadas pelo Conselho de Ética da Casa.
A Mesa Diretora solicitou a suspensão temporária dos mandatos de Marcel Van Hattem, Marcos Pollon e Zé Trovão, que chegou a colocar a perna para impedir a passagem de Hugo Motta para a cadeira da Presidência da Câmara dos Deputados.
O Conselho de Ética abriu processo disciplinar contra os três deputados, no início de outubro, mas a investigação ainda está na fase das oitivas de testemunhas. Na prática, ninguém foi punido ainda pelo motim.
O tratamento truculento dado a Glauber Braga, contrastando com a tolerância com aqueles que fizeram um motim para anistiar as pessoas que tentaram derrubar a democracia, escancara que, além de parcial, Hugo Motta escolheu entrar para a história ao lado dos golpistas.
Fonte: saibamais.jor.br



