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o recomeço de Joalison através do Projeto Alvorada

Desde os 12 anos de idade, Joalison da Silva Oliveira, atualmente com 26, foi expulso de casa pelos pais. A saída precoce do meio familiar foi provocada pelo uso de drogas, que o levou, ainda adolescente, a morar sozinho, virar o braço direito de um traficante e, após a morte do chefe, assumir o ponto de venda dele na Favela Morada da Fé, no município de Macaíba, na Região Metropolitana de Natal. Rapidamente, começou a ganhar dinheiro, comprou carro e casa.

Em 2016, foi preso pela primeira vez, mas passou só seis meses detido. Quando saiu, foi dado como morto após levar nove tiros ao participar de um assalto, mas sobreviveu. Depois de pouco mais de um ano, voltou a se envolver com tráfico e retornou ao sistema prisional.

“Quando saí do complexo [prisional], passei um tempo sossegado, mas tive uma última queda e rodei de novo no tráfico”, conta, referindo-se ao período mais longo que passou na prisão, entre 2019 e 2023.

Foi o sofrimento, segundo Joalison, que o fez querer mudar de vida. “Eu entrava no cárcere, saía e voltava. O sofrimento me fez ver que aquilo não era pra mim. Foi aí que decidi mudar, abandonar o sair da facção e retomar meus estudos”, conta.

Depois de sair do sistema prisional, Joalison buscou ajuda no Escritório Social da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap), que oferece serviços especializados para ex-presidiários e seus familiares com o objetivo de reinserção social, sobretudo, no mercado de trabalho.

Projeto Alvorada: a oportunidade para mudar de vida

Formandos do Projeto Alvorada. Foto: Catarina Rodrigues

Foi através do Escritório Social que Joalison soube da existência do Projeto Alvorada, iniciativa desenvolvida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), através da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), com o objetivo de impulsionar a reintegração social através do acesso ao mercado de trabalho de jovens em situação de vulnerabilidade social.

Na última quarta-feira (10), Joalison foi um dos 30 alunos que participaram da formatura da segunda turma do projeto, realizada no Museu de Minérios do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Ele espera que, depois de concluir o curso de empreendedorismo e administração, as oportunidades de trabalho comecem a aparecer.

“Eu saí do cárcere, procurei o Escritório Social e soube do Projeto Alvorada. Fui me informar, fiz a inscrição, depois fiz uma prova e fui aprovado. Graças a Deus entrei no curso, tive essa oportunidade e agora é vida que segue”, comemora.

A história de Joalison é parecida com a da maioria dos ex-alunos do Projeto Alvorada. Em comum, todos buscam uma oportunidade de mudar de vida através da educação, da qualificação profissional e da inserção no mercado de trabalho, que é o objetivo maior da iniciativa do Ministério da Justiça, em parceria com instituições como o IFRN.

O Ciclo 2 do Projeto Alvorada teve início em fevereiro. De acordo com o MJSP, foram investidos R$ 15,8 milhões, ao longo de 2025, para a execução dessa fase, realizada em 23 instituições de ensino federal, distribuídas em nove estados brasileiros – entre os quais o Rio Grande do Norte.

O projeto busca oferecer cursos de formação inicial e continuada e qualificação profissional, impulsionando o acesso ao mercado de trabalho, especialmente em iniciativas da Economia Popular e Solidária.

A estratégia, ainda segundo o MJSP, envolve instituições de ensino, serviços especializados, empresas, cooperativas populares, poder judiciário e terceiro setor, consolidando-se como uma política pública fundamental para a ressocialização e a construção de uma sociedade mais justa e segura.

A segunda edição do projeto ofereceu cursos de Auxiliar Administrativo, Empreendedorismo e Vendas, com atividades abrangendo formação técnica, acompanhamento social e ações voltadas à autonomia econômica dos participantes.

Os cursos tiveram duração de 700 horas/aulas, no formato presencial, articuladas com ações de mentoria, oficinas temáticas e encaminhamento profissional, com o apoio de instituições parceiras e empresas interessadas em promover a inclusão produtiva.

De acordo com o IFRN, a maioria dos participantes da segunda edição tem entre 25 e 40 anos, com histórico de interrupções nos estudos e vínculos frágeis com o mundo do trabalho formal.

Alunos compartilham trajetórias de vulnerabilidades

Foto: Reprodução IFRN

Apesar das trajetórias diferentes, eles compartilham do mesmo contexto de vulnerabilidade social, incluindo pobreza, exclusão educacional e ausência de políticas públicas em seus territórios de origem.

Além das dificuldades, o que também os une é a vontade de recomeçar, aprender e conquistar novas oportunidades de vida, o que foi possibilitado através do Projeto Alvorada.

Joalison conta que, além de melhorar de vida, abrir seu pequeno negócio e conquistar a autonomia financeira para ajudar a criar a filha de cinco anos que vive com a mãe em Macaíba, ele quer contar sua história para servir de alerta para outros jovens.

“Não tenho mais essa visão de ter as coisas mais fáceis, porque o que vem fácil, vai fácil”, diz, referindo-se ao que conquistou quando vivia no tráfico. Ele assegura que não sente falta das “facilidades” oferecidas pelo crime.

“Quando pedi pra sair da facção, disse que não queria mais ficar nessa vida, porque minha filha tinha nascido. Eles me liberaram, mas tem as regras. Disseram que eu teria que sair para a bênção ou para virar trabalhador”, conta.

A “benção”, primeira condição imposta pela facção para liberá-lo, segundo Joalison, seria a conversão à religião evangélica. Ele, no entanto, escolheu “virar trabalhador”, nas suas próprias palavras.

Desafios da reintegração

Joalison fala sobre sua trajetória durante simpósio sobre desafios da reintegração. Foto: Reprodução

Depois da formatura, Joalison ainda participou do Simpósio de Educação Prisional (SIP), na quinta-feira (11), no mesmo Museu de Mineralogia do Campus Natal-Central do IFRN, que tratou dos desafios da reintegração social, com a presença da diretora de Cidadania e Alternativas Penais da Senappen, Mayesse Parizi.

Ela destacou que o Brasil tem mais de 700 mil pessoas privadas de liberdade. Diante desse cenário, a diretora afirmou que, “se o país escolheu privar pessoas de liberdade como resposta à violência e o resultado não tem sido mais segurança, então algo precisa ser urgentemente revisto”.

Mayesse Parizi alertou ainda para a urgência de preparar a sociedade para a reintegração social, lembrando que, a cada semestre, cerca de 230 mil pessoas deixam as unidades prisionais e precisam de articulação para reorganizar suas vidas em liberdade.

Já o reitor do IFRN, José Arnóbio, enfatizou que a educação “é um caminho possível para a dignidade, para a autonomia e para a reconstrução de trajetórias”.

Durante a formatura dos alunos do projeto, ele defendeu “a necessidade de se sonhar com uma sociedade mais justa e humana”.

Fonte: saibamais.jor.br

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