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Tarifaço de Trump pressiona Brasil e afasta cenário de crescimento do consumo interno

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Aumento de tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros gera perdas bilionárias no comércio exterior e deve frear o consumo interno, com inflação e juros em alta

Por Alan Vasconcelos
Da Redação

A partir de 1º de agosto, o Brasil enfrentará um novo capítulo em sua relação comercial com os Estados Unidos: o chamado “tarifaço de Trump”. A medida, anunciada pelo ex-presidente norte-americano e atual candidato à Casa Branca, impõe uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros como suco de laranja, carne bovina, celulose, químicos e aço. Em vez de estimular a economia interna, o impacto esperado é o oposto: desaquecimento da atividade econômica, encarecimento do crédito e retração no consumo.

Segundo estimativas de economistas da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a medida pode gerar perdas superiores a US$ 15 bilhões por ano em exportações brasileiras. O efeito já começou a ser sentido, com o cancelamento de pedidos por empresas norte-americanas, especialmente nos setores de alimentos processados, proteína animal e papel.

> “É uma reação geopolítica e eleitoral de Trump, com forte impacto comercial para o Brasil, mas também para o ambiente de negócios interno”, explica a economista Fernanda Lopes, da USP.

Alta do dólar e risco inflacionário

Com a perspectiva de redução nas exportações e fuga de capitais, o real já mostra sinais de desvalorização frente ao dólar. A moeda norte-americana tem operado acima de R$ 5,50, gerando impacto direto sobre o custo de insumos importados e pressionando os índices de inflação. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, a projeção inflacionária subiu para 5,2% em 2025, atingindo o teto da meta oficial.

O risco inflacionário limita a capacidade de corte na taxa de juros, atualmente em 15% ao ano. Isso compromete o poder de compra das famílias, trava o crédito ao consumidor e reduz a margem de investimento das empresas.

> “É difícil falar em estímulo ao consumo interno quando a inflação está pressionada e os juros altos tornam qualquer compra parcelada proibitiva”, comenta o analista financeiro Gustavo Cordeiro.

Indústria e agricultura em alerta

O impacto é ainda mais sensível para a indústria e o agronegócio, que já enfrentam desafios logísticos, alta nos custos e incertezas externas. O setor de carnes, por exemplo, teme perder fatias do mercado americano para concorrentes como México e Argentina.

Já a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) negocia alternativas de escoamento para Ásia e Oriente Médio. Mesmo assim, o redirecionamento não é simples e exige tempo e acordos comerciais.

Efeito político e reação do governo

Internamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou tom crítico em relação à medida de Trump, classificando-a como “chantagem política” e reforçando a importância de diversificar os parceiros comerciais. O Itamaraty trabalha com uma estratégia diplomática para pressionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e negociar a reversão das tarifas.

Apesar do tom de enfrentamento, analistas acreditam que a tensão comercial pode ser utilizada politicamente por Lula para fortalecer o discurso de soberania e reindustrialização. Entretanto, isso não afasta os efeitos imediatos sobre a economia real.

Consumo interno não será salvo pela “sobra de exportações”

Uma das hipóteses ventiladas por setores mais otimistas seria o aumento da oferta de produtos no mercado interno, caso não sejam mais exportados aos EUA. No entanto, especialistas são céticos quanto a esse impacto ser suficiente para estimular o consumo.

> “O consumidor só consome se tiver renda, emprego e crédito. E todos esses fatores estão sob ameaça com a crise comercial”, diz a professora de economia internacional da UFRN, Márcia Duarte.

Conclusão

O tarifaço de Trump, longe de beneficiar o consumo interno no Brasil, representa uma ameaça concreta ao crescimento econômico em 2025. A medida compromete exportações, pressiona o câmbio, alimenta a inflação e limita a ação do Banco Central. Em um ano já desafiador, a economia brasileira entra em modo defensivo, apostando na resiliência do mercado interno e em estratégias diplomáticas para enfrentar o novo cenário.

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