A potiguar Sônia Zerino fez história neste mês ao assumir a presidência da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), tornando-se a primeira mulher a assumir o comando máximo de uma entidade nacional entre as seis centrais sindicais registradas no Brasil.
A posse da dirigente aconteceu na última terça-feira (2), em Brasília. Filiada ao PCdoB, Sônia iniciou sua trajetória no movimento dos trabalhadores na década de 1970, trabalhando nas Confecções Guararapes. Foi da direção do Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras e Trabalhadores nas Indústrias de Confecção de Roupas do Rio Grande do Norte (Sindconfecções/RN) e há 21 anos vive na capital federal. Além da NCST, atua também como secretária para Assuntos de Trabalho, da Mulher, da Juventude e do Idoso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI).
Sônia assume a NCST no lugar de Moacyr Auersvald. Ela vai comandar a entidade no quadriênio 2025-2029. A dirigente sindical diz que a chegada ao lugar que ocupa hoje não foi fácil, já que os espaços de poder costumam ser ocupados por homens. Uma de suas principais lutas dentro do movimento sindical envolve a igualdade de gênero e a valorização da diversidade.
“A chegada das mulheres dentro desses espaços e a presença feminina na liderança sindical é um sinal de que as estruturas tradicionais estão se redefinindo. É um avanço positivo para o fortalecimento do movimento sindical como um todo. É essencial para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva”, aponta Sônia Zerino.
A potiguar se inspira em outras mulheres nascidas no Rio Grande do Norte que marcaram história, como Celina Guimarães — primeira brasileira a votar — e Alzira Soriano — primeira prefeita eleita no país. No comando máximo da NCST, Sônia é a primeira mulher presidenta de uma central sindical entre as seis principais reconhecidas no Brasil. A lei 11.648/2008, que dá status legal às centrais sindicais, estabelece que para participar de negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social com composição tripartite de interesse da classe, uma central precisa ter a filiação de sindicatos que representem, no mínimo, 7% do total de empregados sindicalizados nacionalmente. Hoje, atingem esse percentual a CUT, UGT, CTB, Força Sindical, CSB e Nova Central.
A NCST está um pouco acima desse patamar, com uma representatividade de 7,47%, segundo dados de junho de 2024 divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A CUT lidera com 30,4%, seguida por UGT (11,29%), CTB (10,8%), Força Sindical (10,08%) e CSB (8,15%).
Desafios
A potiguar assume a central sindical num momento em que o movimento dos trabalhadores ainda sente os reflexos da reforma trabalhista de 2017, proposta pelo governo Michel Temer (MDB) e cujo relator foi o ex-deputado federal e atual senador do Rio Grande do Norte, Rogério Marinho (PL). Mesmo com as dificuldades, há um respiro. No ano passado, a sindicalização cresceu pela primeira vez desde 2012. A taxa de pessoas associadas a sindicatos passou de 8,4% (8,3 milhões de pessoas) para 8,9% (9,1 milhões de pessoas) e interrompeu a trajetória negativa. Ainda assim, é uma redução de 7,2% em relação a 2012, o início da série histórica, quando o percentual era de 16,1%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e foram divulgados em novembro deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
“Nós não entendemos ainda a força que nós temos, porque somos nós que colocamos esses parlamentares ali. Somos nós que damos uma procuração em branco para esse pessoal e nós não fiscalizamos. O que é que acontece? Os empresários investem e eles cobram. E nós, do movimento, precisamos potencializar informação para nossas bases. Então, eu acho que a gente está vivendo uma crise de sindicalização que é atribuída a vários fatores interconectados, que inclui as formações estruturais, o mercado de trabalho, políticas neoliberais, os desafios internos e adaptação dos próprios sindicatos agora com várias formas de contrato de trabalho, flexibilização, precarização, trabalho temporário, ‘pejotismo’, autonomia, a mudança do perfil da classe trabalhadora”, reflete a dirigente.

Zerino defende a necessidade do movimento sindical se reinventar, fortalecer as negociações e insistir na redução dos juros.
“A atuação sindical, ao fortalecer a posição e o poder econômico dos trabalhadores, tem um impacto direto com a nossa posição de voltarmos às bases, mas furarmos a bolha para a gente poder garantir retomada da confiança dos trabalhadores nessa luta coletiva”, diz.
Escala 6×1
Sônia afirma que todas as centrais sindicais estão empenhadas no combate pelo fim da escala 6×1 e pela redução de jornada sem redução de salário.
“A gente tem trabalhado, só que nós temos um Congresso que não nos ajuda”, lamenta.
A presidente da Nova participou na quarta-feira (3) de uma reunião no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em Brasília, ao lado do ministro Luiz Marinho, da deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS) e de representantes das centrais sindicais. O encontro teve como pauta central a construção de alternativas para o fim da escala 6×1, modelo considerado prejudicial à saúde e à qualidade de vida dos trabalhadores.
“As pautas dos trabalhadores estão travadas, porque nós temos um Congresso muito conservador, um Congresso de extrema direita que prejudica os trabalhadores e que, mesmo que nós tenhamos no topo o companheiro Lula, que veio oriundo do movimento sindical, a gente tem um Congresso que trava a pauta dos trabalhadores”, atesta a dirigente.
Em ano de eleição, como em 2026, ela diz que é preciso ter uma atenção especial ao voto para mudar a cara do Congresso.
“A gente tem que conversar com o povo para que nós possamos fazer mais deputados, mais senadores que sejam verdadeiramente defensores, que representem e que tratem com afinco a procuração que nós damos para eles trabalharem, em prol da classe que mais necessita e que faz engrandecer e enriquecer esse país, que é a classe trabalhadora,” afirma.
“Governo Lula nos ouve”, diz Sônia Zerino
A dirigente sindical, filiada ao PCdoB, mantém uma leitura favorável ao governo Lula, mas defende a necessidade de ter autonomia e vigilância.
“O governo Lula é um governo progressista, um governo que nos ouve, porque nós passamos seis anos sem o governo anterior nos receber”, aponta ela.
“Então, eu enxergo o governo Lula como um aliado fundamental para o diálogo e a justiça social, mas manter a autonomia e a postura vigilante é bacana. As entidades cobram ações efetivas para reverter os danos da reforma trabalhista de 2017, que enfraqueceu financeiramente os sindicatos e precarizou direitos. Só que a gente sabe que as coisas não são tão fáceis, mas eu enxergo como um aliado fundamental para o diálogo e caminhando para a justiça social inclusiva”, destaca.
Fonte: saibamais.jor.br