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Escola de música pública do RN sofre com estrutura precária

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Escola de música pública do RN sofre com estrutura precária

Única escola de música pública estadual no RN, o Instituto de Música Waldemar de Almeida (IMWA) se aproxima de completar 40 anos com estrutura precária, poucos cursos funcionando e perda de professores. Paradoxalmente, a demanda por vagas cresce, e o interesse do público pelas apresentações, também. A Fundação José Augusto (FJA), responsável pela administração, diz que planeja fazer um restauro no prédio, mas ainda sem data. 

Kaio Morais é professor de canto lírico e coordenador pedagógico da Waldemar de Almeida. Em vídeo publicado no Instagram do Instituto Águas Claras, uma organização não governamental (ONG) criada para dar apoio às ações implementadas pela escola de música, ele denunciou uma série de problemas, como falta de acessibilidade, de segurança e móveis enferrujados. À reportagem, ele conta sobre outros problemas. 

O docente diz que uma das dificuldades está na disponibilização de instrumentos. Em escolas de música públicas, como na da UFRN, por exemplo, existem instrumentotecas — espaços em que os instrumentos são cedidos aos alunos para utilização nas aulas. Na Waldemar de Almeida, são poucos disponíveis.

“A gente tinha isso também no Instituto de Música Waldemar de Almeida, mas os instrumentos foram ficando velhos e foram se acabando, alguns foram sumindo e não tinha um controle”, explica Kaio Morais. 

“Então, agora a gente quase não tem instrumentos. Se for para abrir um curso de violino, por exemplo, a gente tem que chamar pessoas que já têm o seu violino. Isso faz com que a gente coloque uma barreira muito grande, porque nem todo mundo vai ter um violino para estudar, e inclusive os outros instrumentos”, relata.

“E aí é que a gente acaba deixando de cumprir com o nosso compromisso social, porque a gente é uma escola do governo, então a gente tem que ser uma escola acessível para as pessoas que queiram estudar música”, continua o professor.

Também faltam mais funcionários no quadro docente. Em 1990, no auge de sua operação, o IMWA contava com 28 professores e atendia 496 alunos distribuídos em 25 modalidades de ensino musical. Hoje, apenas 10 professores mantêm funcionando 9 dos 25 cursos originalmente previstos. A redução é de 66,7%.

“Os professores vêm se aposentando, inclusive a gente vai perder mais um importante professor, que é o professor de violoncelo, agora no início do ano que vem. Ele já comunicou que vai se aposentar”, diz Morais.

Outros problemas na infraestrutura envolvem:

• Salas sem climatização adequada, com ar-condicionado quebrado que atrapalha aulas de canto 

• Pianos antigos e emperrados, com teclas travadas 

• Ausência total de acessibilidade (prédio de 1º andar sem elevador ou rampa) 

• Carpetes sem manutenção, que pode acumular agentes nocivos à saúde

Fundação planeja reforma

Diretor geral da Fundação José Augusto (FJA), Gilson Matias afirma que há um processo de reforma em andamento de vários prédios e o Instituto de Música está contemplado. No entanto, ainda não há uma data certa, já que depende da finalização de serviços em outros espaços. A FJA é a autarquia responsável pela gestão dos prédios e equipamentos da cultura do Rio Grande do Norte.

Matias conta que o orçamento para todas as obras necessárias na Waldemar de Almeida é de R$ 177 mil. Desde que assumiu o comando da Fundação, ele conta que começou um planejamento de restauro por blocos em diversos equipamentos públicos espalhados pelo estado, como Casa de Cultura de Parelhas, de Serra Negra do Norte e no Centro Cultural Adjuto Dias, em Caicó.

Atualmente, os serviços se concentram em outros equipamentos, como a sede da FJA e o Teatro de Cultura Popular (TCP). No entanto, quando as equipes trabalhavam no prédio da Fundação, surgiu um problema no esgotamento sanitário que demandou maior atenção. Tão logo termine essa obra, diz o diretor geral, se iniciam os trabalhos de restauro no Instituto de Música Waldemar de Almeida. 

Alta procura

Paradoxalmente, enquanto a estrutura enfrenta problemas, a procura explode. O curso de Canto Lírico registrou aumento de 444% nas inscrições entre 2016 e 2025, saltando de nove para 49 candidatos. Em 2023, foram 59 inscrições para apenas 12 vagas — uma taxa de aprovação de 20%, similar a de universidades federais concorridas. Kaio estima que, nos últimos três anos, mais de 100 pessoas deixaram de ser atendidas apenas no curso de canto lírico por falta de vagas e infraestrutura.

Já em 2025, o IMWA recebeu 76 inscrições (49 para canto lírico + 27 para a AON) e conseguiu aprovar apenas 12 pessoas, por falta de capacidade de receber novos alunos.

Ainda assim, os eventos públicos promovidos pelo IMWA demonstram o crescente interesse da população pela música erudita. Em 2016, as apresentações reuniam em média 30 pessoas. Em 2024, esse número saltou para 620 espectadores — um crescimento de 1.967%. 

O principal responsável por essa expansão é a Academia de Ópera de Natal (AON), grupo de extensão criado em 2023 que já reúne 55 artistas das áreas de canto, teatro e dança. A AON é pioneira no estado ao oferecer formação integrada em ópera, reunindo professores da rede estadual, alunos da Escola de Música da UFRN, bailarinos da Escola de Dança Teatro Alberto Maranhão (EDTAM) e membros da comunidade. 

Com perfil inclusivo — 55% de artistas negros e pardos, 30% LGBTQIAPN+, 20% pessoas com deficiência ou transtorno, e 3% indígenas — a AON representa um modelo de democratização do acesso à música lírica no Nordeste.

Acesso de oportunidades

Em depoimentos coletados para relatório interno, estudantes do Instituto de Música Waldemar de Almeida relataram a importância do acesso gratuito à formação musical em suas vidas. 

“Ter em nossa cidade um curso de Canto Lírico e uma Academia de Ópera sustenta um cenário rico e difícil de se ter em qualquer cidade. Para alicerçar esse cenário cultural, o IMWA necessita urgentemente de uma estrutura que seja compatível com o trabalho realizado”, disse a aluna Kalu Fernandes.

“A IMWA me trouxe uma oportunidade que nunca imaginava ter. Me encontrei no mundo operístico, não somente como pertencente, mas protagonista da arte”, apontou outra estudante, Kelly Cristina de Oliveira Costa.

Danos são incalculáveis, diz professor

Kaio Morais afirma que os prejuízos causados pela estrutura precária trazem prejuízos incalculáveis. Ele relata que, em vários depoimentos, alunos afirmam que o Instituto Waldemar de Almeida foi responsável por mudar suas vidas.

“Essa instituição formou grandes músicos para o estado do Rio Grande do Norte. Muitos que passaram por essa instituição estão em outras instituições, professores que foram do IMWA muitos estão dando aula na UFRN”, conta.

Além disso, diz Kaio Morais, o Waldemar de Almeida também já foi responsável por sediar diversos eventos — inclusive internacionais — ao longo de quase quatro décadas.

“Como pode uma instituição que recebeu eventos internacionais estar nessa situação? Como pode uma instituição que formou tantos potiguares, tantos músicos, estar nessa situação? Então, eu acho que é incalculável o instituto não estar funcionando como deveria para a cultura do estado do Rio Grande do Norte”, lamenta.



Fonte: saibamais.jor.br

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