Escrevi aqui neste espaço no início de 2025 que o Governo Lula, com seu republicanismo e liturgia aos cargos, nos possibilitava escrever sobre coisas outras que não novidades políticas. Afinal, nos 4 anos de desgoverno Bolsonaro, diariamente éramos obrigados a saber de bizarrices e abusos, tendo de nos determos sobre eles e, consequentemente, em escrever sobre. Anos terríveis com gritos contra jornalistas, cercadinho, isolamento internacional, imitação de pessoas com falta de ar, declaração afirmando ser imbrochável, imorrível e incomível etc.
Contudo, mesmo com crescimento econômico durante o ano, pacificação diplomática com o doido do Trump e tranquilidade institucional, o momento político está tenso como poucas antes. Como escreveu o dramaturgo alemão Bertold Brecht, a cadela do fascismo está sempre no cio. A extrema-direita, que tenta a todo custo reverter a prisão de Jair Bolsonaro e criar condições de derrotar Lula em 2026, realizou uma jogada (pré-lançamento da candidatura a presidente de Flávio Bolsonaro) que lhe permitiu chantagear e aliar-se ao poder econômico, ao Centrão e aos presidentes do Congresso.
Essa é a única explicação para o presidente da Câmara, Hugo Motta, ter colocado em pauta para votação um projeto que prevê redução de pena para quem tentou golpe de Estado, incluindo aí, Jair. O projeto foi aprovado às 3h52 desta madrugada, com 291 votos a favor e 148 contra. Na prática, o famigerado projeto vai reduzir em muito a pena de gente que tentou explodir aeroporto em véspera de natal e que planejou matar presidente eleito, vice e ministro do STF. Mas para essa turma o importante é soltar Bolsonaro. Não por qualquer sentimento de justiça, mas que o inelegível assim continue, mas faça campanha e transferência de votos para o candidato ungido do sistema financeiro, possivelmente Tarcísio de Freitas.
Ou seja, para Hugo Motta, Davi Alcolumbre (que já garantiu que o projeto também passa no Senado) e o Centrão, a campanha já começou. E no ritmo de vale tudo, inclusive ameaçar a Democracia e as instituições, esporte favorito de algumas dessas criaturas. Inclusive no show de horrorees desta terça, Motta mandou a polícia legislativa arrastar a força o deputado Gláuber Braga da mesa e ainda expulsou jornalistas com brutalidade do plenário.
Claro que do Senado, o projeto vai para Lula sancionar ou vetar. Mas mesmo com veto presidencial, o projeto volta para o Congresso que pode (e deve) recusar o veto. Aí o projeto iria para o STF para consulta de constitucionalidade, e mesmo com a tendência ser de não aprovado, muita coisa ainda pode acontecer, principalmente diante da força política mostrada pela Direita e Centrão.
Uma solução seria novamente tomar as ruas, mas em plena época de Natal e Ano Novo não parece haver clima nem condições para tal. E movimentos pífios e esvaziados mais enfraquecem a causa que ajudam.
Já que falamos em dezembro, lá estava eu com textos na cabeça sobre espírito natalino, sobre o desastre da engorda da praia de Ponta Negra em Natal, sobre comportamento masculino, e ainda cinema e mais as coisas desimportantes que tem sua importância, como futebol.
Mas em um país que tem a Faria Lima, os Bolsonaros e uma criatura como Hugo Motta como presidente da Câmara dos Deputados, não teremos um minuto de sossego para coisas triviais. Preparemo-nos para 2026, que vai ser osso!
Fonte: saibamais.jor.br
