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pesquisadores identificam esgoto, impermeabilização e risco de erosão

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Impermeabilização do solo, presença de esgoto na faixa de praia e quantidade de areia insuficiente para o aterro hidráulico da praia de Ponta Negra, na Zona Sul de Natal, são alguns dos problemas identificados por pesquisadores da UFRN. No mês de novembro eles apresentaram alguns resultados de seus trabalhos no seminário do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Klimapolis. 

Vinícius de Azevedo Pereira, bacharel em Ciências e Tecnologia, Engenheiro Ambiental e Mestre em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), apresentou a pesquisa “Impactos da drenagem pluvial urbana na erosão costeira: Uma análise por modelagem hidrológica em Natal (RN)”. Ele identificou lançamento de esgoto direto no sistema de drenagem, que é ligado à praia, ou seja, que chega até a praia, contaminando o ambiente.

Outro problema que, infelizmente, é muito comum nessa região, é o lançamento de esgoto diretamente no sistema de drenagem e o próprio sistema de drenagem é ligado diretamente na praia“, aponta. 

Em 2012, após realização de perícia, Vinícius explica que foram contabilizados 33 bueiros, pontos de lançamento de águas pluviais na praia de Ponta Negra. Enquanto isso, em 2025, foi verificada a existência de apenas 16 dissipadores, ou seja, não há dissipadores em todos os pontos onde havia lançamento de água pluvial na praia. 

É uma matemática que não bate. Realmente não há dissipadores em todos os pontos de lançamento de águas pluviais. Suscita essa dúvida, se esses bueiros foram consertados ou se essa água continua passando direto para a praia, realmente indica que sim, que isso acontece”, conclui. 

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Vinícius investigou os impactos da drenagem urbana nas praias de Ponta Negra e Via Costeira. Ele observou que há um alto nível de impermeabilização do solo na região, que é uma área turística da cidade. Isso influencia diretamente na impermeabilização do solo e na quantidade de água que vai escoar até a praia. Além disso, por causa do desnível, a água chega com muita energia na área da praia. 

Durante o evento do dia 14 de março de 2025, como já era esperado, a chuva de 87 milímetros em uma manhã foi suficiente para deixar o aterro hidráulico totalmente alagado“, revela o pesquisador, que em seu trabalho propõe algumas sugestões de drenagens sustentáveis, como a criação de jardins para absorver a água das chuvas.

Já Lívian Rafaely de Santana Gomes Pinheiro, geóloga com ênfase em Meio Ambiente e Dinâmica Costeira, Mestre em Ciências Climáticas e Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente, atualmente professora visitante na Universidade Federal do Ceará (UFC) e pós-doutoranda, levanta dúvida sobre a quantidade de areia utilizada no aterro hidráulico. 

As peças que foram sendo colocadas não tinham a função de reter sedimentos [diz ao se referir a barreiras de contenção, como muros de concreto e enrocamento], elas foram agentes de intensificação, com a retirada de mais sedimentos. Todo esse processo não foi contemplado, até onde a gente sabe, no dimensionamento do aterro. Então, o cálculo que serviu de base para saber o quanto de areia deveria ter sido colocado no aterro foi de uma modelagem de estudos feitos em 2016, de quase dez anos atrás”, alerta a pesquisadora. 

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Os trabalhos foram orientados pelo professor de Engenharia Civil e Ambiental da UFRN Venerando Eustáquio, que também é coordenador do Laboratório de Geotecnologias Aplicadas Modelagem Costeira e Oceânica (GNOMO). 

Em matéria publicada nesta terça (10) pela Agência SAIBA MAIS, o professor explicou que já há evidências de que a areia do aterro hidráulico de Ponta Negra está sendo carregada para a Via Costeira.

A obra da Engorda de Ponta Negra 

A engorda da praia de Ponta Negra, que custou cerca de R$ 100 milhões, foi realizada sem acompanhamento de órgãos de fiscalização. Por meio de força judicial, a Prefeitura do Natal conseguiu o Licenciamento de Instalação e Operação (LIO), necessário para início dos trabalhos. Porém, o licenciamento era válido para uma área diferente da que foi explorada na extração da areia da jazida. 

Para não ter que pedir nova licença, o então prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), emitiu um decreto de estado de emergência por erosão pelo avanço da maré em setembro de 2024. Com isso, a obra foi realizada sem licenciamento ambiental. 

Já em outubro do mesmo ano, a Prefeitura do Natal conseguiu na justiça um mandado de segurança proibindo o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) de fiscalizar a obra da engorda. 

A obra foi concluída em 25 de janeiro de 2025, mas sem a parte da drenagem finalizada, o que só ocorreu no início de março com o funcionamento dos 16 dissipadores, estruturas utilizadas para reduzir a velocidade da água durante o escoamento. 

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Fonte: saibamais.jor.br

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