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Família pede acesso a inquérito policial sobre morte de Glênio Sá

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Família pede acesso a inquérito policial sobre morte de Glênio Sá
Glênio Sá, preso e torturado pela ditadura militar – Foto: cedida

A família de Glênio Sá, único potiguar a lutar na Guerrilha do Araguaia, entregou nesta segunda-feira (15) um ofício à governadora Fátima Bezerra (PT) em que pede acesso ao inquérito policial, aos laudos e a outros documentos oficiais sobre a morte do militante comunista, ocorrida em 26 de julho de 1990.

Glênio Sá foi capturado em 1972, torturado pela ditadura e passou anos em prisões clandestinas antes de ser libertado em 1974. Ele morreu num acidente automobilístico que, para a família, ainda hoje é cercado de mistério. Os familiares nunca aceitaram a versão oficial do acidente. Na retomada da Conferência Nacional dos Direitos Humanos, que ocorreu de 10 a 12 de dezembro em Brasília (DF), os participantes também deliberaram pela priorização da proposta de criação e instalação de uma nova Comissão Nacional da Verdade (CNV), com recorte histórico ampliado entre 1935 e 1990, e prazo mínimo de dez anos.

A entrega aconteceu pelas mãos da filha de Glênio, Jana Sá, que preside o Comitê Estadual da Verdade, Memória e Justiça. A deputada Natália Bonavides (PT) também participou do encontro. Segundo Jana, ela foi recebida de forma respeitosa e atenta pela governadora.  “O ofício foi acolhido, houve escuta e o compromisso de encaminhamento das demandas. Para nós, isso é importante porque reafirma que essa luta não é individual, mas institucional e histórica. Seguiremos acompanhando e cobrando os desdobramentos”, afirma.

Jana Sá, hoje jornalista e pesquisadora que há mais de três décadas se debruça sobre a história do pai, conta que desde cedo a família contesta a versão oficial de que a morte de Glênio Sá teria sido um acidente. “Não se trata de uma desconfiança abstrata ou emocional, mas de um conjunto robusto de fatos, documentos oficiais, contradições institucionais e contexto político que apontam para uma morte forjada, no bojo da perseguição que ele continuou sofrendo mesmo após o fim formal da ditadura”, afirma Jana.

A filha afirma que, após as prisões, torturas e saídas da cadeia, Glênio passou a falar publicamente sobre a Guerrilha do Araguaia num período em que o Estado brasileiro negava a própria existência desse episódio.  “Ele deu entrevistas, escreveu, nomeou torturadores em depoimentos públicos. Isso gerou incômodo real. Há registros oficiais de vigilância até o ano da sua morte.”

Glênio Sá, preso e torturado pela ditadura militar – Foto: cedida

De acordo com Jana, o suposto acidente apresenta inconsistências graves. Ela cita um laudo inconclusivo do ITEP, uma placa de veículo que aparece no laudo e nos jornais da época, mas que oficialmente “não pode ser localizada”, e uma certidão policial que não esclarece elementos básicos do ocorrido.

Em 2022, Jana Sá e Gilson Sá, filhos de Glênio e jornalistas, lançaram o documentário “Não foi acidente, mataram meu pai”, em que questionam, com base em uma longa pesquisa histórica, as circunstâncias controversas da morte do pai. Ela afirma que o documentário serviu para sistematizar esses fatos, cruzar documentos e mostrar que o caso não pode continuar sendo tratado como uma fatalidade. 

“O que buscamos é verdade, reconhecimento e justiça, não apenas por ele, mas por todas as vítimas da repressão que continuaram sendo silenciadas mesmo na chamada redemocratização”, aponta.

Luta é vivida por amor e responsabilidade histórica, diz viúva de Glênio Sá

Quando Glênio morreu, Jana tinha apenas seis anos e Gilson, nove. A partir dali, diz a viúva do militante comunista, Fátima Sá, ficou sobre si não só a responsabilidade de criar os dois filhos sozinha, mas de manter viva a luta por verdade e justiça.  “Eu nunca aceitei a versão de acidente porque sempre soube que ele continuava sendo perseguido”, aponta.

De acordo com Fátima, Glênio não parou de ser vigiado quando saiu da prisão.  “Ele continuou falando, denunciando, dando entrevistas, participando de debates públicos. Em 1989, num evento pelos dez anos da Lei da Anistia, ele citou nominalmente os torturadores. Aquilo teve um peso enorme. As ameaças existiam. O clima de perseguição existia.”

Ainda segundo Fátima, a morte de Glênio trouxe sentimentos distintos.  “A dor de perder o companheiro se misturou com a obrigação de proteger a memória dele e de explicar aos nossos filhos que o pai deles não morreu por acaso. Essa luta sempre foi movida por amor, mas também por responsabilidade histórica. Não é apenas uma questão familiar, é uma questão política e coletiva”, atesta.

“O que nós queremos é que o Estado brasileiro assuma a responsabilidade por aquilo que fez e por aquilo que permitiu que continuasse sendo feito, mesmo depois da ditadura”, continua.



Fonte: saibamais.jor.br

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