Um dos mais importantes espaços de preservação da memória literária cultural do Rio Grande do Norte ganhou homenagem audiovisual de sua trajetória. O documentário sobre Abimael Silva e os 40 anos do Sebo Vermelho estreou no último dia 15 de dezembro, ele integra um episódio especial do programa Identidade RN, produzido pela TV Assembleia. A produção está agora também disponível no YouTube.
Mais do que contar a história de uma livraria, o documentário resgata quatro décadas de resistência cultural, protagonizadas por um homem que transformou livros em instrumentos de identidade, memória e permanência histórica.
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Fundado em 1985, no Beco da Lama, no Centro de Natal, o Sebo Vermelho nasceu de uma decisão radical. Abimael, então bancário, abandonou um emprego estável para investir os recursos da rescisão em uma pequena cigarreira pintada de vermelho, onde passou a vender livros usados. O acervo inicial era a própria biblioteca pessoal, com cerca de 600 exemplares. Hoje, são aproximadamente 93 mil livros, muitos deles raros, organizados segundo um método próprio desenvolvido pelo sebista.
A paixão pelos livros logo extrapolou o comércio. Em 1990, Abimael decidiu também se tornar editor, diante da dificuldade enfrentada por autores locais para publicar suas obras. O primeiro título lançado foi O Écran Natalense, de Anchieta Fernandes, em 1991, considerado um marco editorial na historiografia cultural da cidade. Desde então, o Sebo Vermelho publicou 665 títulos, todos voltados à história, à cultura e à literatura do Rio Grande do Norte, tornando-se o único sebo do país a atuar também como editora.
Ao longo do documentário, Abimael relembra os desafios de manter um projeto editorial independente, as dificuldades de distribuição e a ausência de apoio institucional. Ele lamenta que, ao longo de 40 anos, nenhuma instituição cultural do estado tenha adquirido oficialmente suas publicações, apesar da relevância histórica dos títulos lançados. Ainda assim, o editor destaca a importância do repertório, da pesquisa e do compromisso com a memória local como diferenciais do Sebo Vermelho.
Entre as obras mais emblemáticas publicadas estão Écran Natalense, a 1ª Antologia dos Poetas do Rio Grande do Norte, de Ezequiel Wanderley, originalmente lançada em 1922, livros de Câmara Cascudo e estudos sobre o Seridó, que somam cerca de 300 títulos. Abimael também publicou correspondências de Carlos Drummond de Andrade com Zila Mamede e obras sobre a presença dos americanos em Natal durante a Segunda Guerra Mundial.
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O documentário também revela o lado pessoal de Abimael Silva, que faz um balanço sincero de sua trajetória. Ele afirma viver com simplicidade, mas com a convicção de ter realizado um projeto único no país. “Eu costumo dizer que tenho tudo e não tenho nada”, resume, ao refletir sobre o valor simbólico de sua obra frente às limitações materiais.
Com depoimentos, imagens de arquivo e registros do cotidiano da livraria, a produção reforça o papel do Sebo Vermelho como patrimônio cultural potiguar,um espaço de encontros, ideias e resistência. Aos 40 anos, o sebo segue ativo, independente e fiel à missão de preservar e difundir a história do Rio Grande do Norte, impulsionado pelo sonho declarado de seu fundador: publicar mil títulos.
Um sonho que, como o próprio documentário evidencia, já faz parte da memória coletiva do estado.
Confira na íntegra:
Fonte: saibamais.jor.br
